Alyssa tinha 13 anos quando, em maio de 2021, recebeu o diagnóstico de uma leucemia linfoblástica aguda. Desde então foi sujeita a vários tratamentos, entre os quais quimioterapia e transplante de medula óssea. Nada resultou.
Um ano depois, os médicos do hospital Great Ormond Street, em Londres, propuseram que Alyssa fosse sujeita a um tratamento inovador, inventado há apenas seis anos: uma tecnologia chamada edição de base que amplia uma parte do código genético e altera a estrutura molecular.
Alyssa foi a primeira a receber este tratamento. Em maio recebeu milhões de células T modificadas que substituíram as células T originais de ALyssa – as cancerígenas e as restantes. Ao fim de um mês, as análises de Alyssa indicavam que se encontra em remissão e seis meses depois não há qualquer sinal de regresso da doença.
Segundo Wassem Qasim, médico do hospital Great Ormond Street, este tratamento consiste numa “manipulação genética” de uma "área de ciência muito rápida" com "enorme potencial" para uma série de doenças.
Para David Liu, um dos inventores da edição de base no Instituto Broad, é "um pouco surreal" que as pessoas estão a ser tratadas seis anos após a invenção da tecnologia.
Segundo o médico, no caso de Alyssa, cada uma das edições de base envolvia a quebra de uma secção do código genético para que deixasse de funcionar. Mas há outras situações em que, em vez de desligar uma instrução, se pode corrigir uma defeituosa. A anemia falciforme, por exemplo, é causada por apenas uma alteração de base que pode ser corrigida, havendo já ensaios de edição de bases em curso no colesterol elevado e na doença do sangue beta-talassemia.
Segundo David Liu, "as aplicações terapêuticas da edição de base estão apenas a começar", uma vez que a ciência está a dar "passos chave para tomar o controlo dos nossos genomas".
Em declarações à BBC, Alyssa disse que “Eventualmente eu teria falecido" se o tratamento não tivesse sido feito.
“Aprende-se apenas a apreciar cada coisinha. Estou tão grata por estar aqui agora", disse Alyssa, que considera “espantoso que eu tenha tido esta oportunidade”. Por isso, disse estar “muito grata” e contente por o caso dela ir “ajudar outras crianças, também no futuro".
Por seu turno, a mãe, Kiona, admitiu ao jornal que, há um ano atrás, temia o Natal, "pensando que seria o nosso último com ela".
"Ter este ano extra, estes últimos três meses em que ela esteve em casa, tem sido um presente em si mesmo", reconheceu Kiona.
James, o pai de Alyssa, mostrou-se surpreendido com a força da filha. “Quando se vê o que ela passou e a sua vitalidade de vida que ela trouxe a todas as situações, é extraordinário".