O ministro dos Negócios Estrangeiros português admitiu este domingo que a guerra da Ucrânia se alastre no tempo, embora acreditando numa vitória ucraniana face à “derrota estratégica” da Rússia, causada pelo “gravíssimo erro" do Presidente russo com a invasão.
“Por um lado, tornou-se claro que a Rússia não tem capacidade para conquistar os seus objetivos a curto prazo e sem custos elevadíssimos e isso é positivo, mas por outro lado, sabemos também que a Rússia tem uma capacidade militar que torna extremamente difícil que as forças ucranianas consigam repelir, no curto prazo, forças invasoras da Rússia e, portanto, a nossa expectativa neste momento é que isto pode durar na medida em que nenhuma das partes tem capacidade militar para resolver a situação num prazo curto”, disse João Gomes Cravinho.
Falando aos jornalistas portugueses no final da reunião informal dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), em Berlim, o chefe da diplomacia portuguesa disse acreditar que a Ucrânia possa sagrar-se vencedora da guerra.
“Acredito, acredito. Quando falamos de vencer ou perder uma guerra, não são conceitos simples, [porque] pode haver uma situação em que um lado até tem algum ganho territorial, mas a um custo tão elevado que, efetivamente, constitui uma derrota e aquilo que é fundamental é que a Rússia tenha aqui uma derrota estratégica, o que significa que qualquer avanço que possa ter tem um custo tão elevado que nunca o faria se soubesse de antemão o custo”, argumentou João Gomes Cravinho.
De acordo com o ministro português, “também é derrota estratégica se a Rússia não consegue alterar as fronteiras por via da força”.
“É, creio que para todos, muito visível que houve aqui um gravíssimo erro" do Presidente russo, Vladimir Putin, disse o ministro, acrescentando: "Um erro de cálculo e também na metodologia escolhida para resolver as dificuldades com a vizinhança, e esse erro paga-se muito caro".
Reforçando que “a Rússia está a caminho de uma dura derrota estratégica”, o chefe da diplomacia portuguesa adiantou que, depois disso, a NATO “voltará a falar” com Moscovo, “num quadro em que se tornou evidente que não se pode voltar a repetir este tipo de comportamento internacional”.
Assim, a Aliança Atlântica pretende “estabelecer um diálogo com a Rússia”, mas sem “permitir absolutamente qualquer ganho de causa, qualquer tipo de expansão territorial, qualquer tipo de vantagem conquistada pela força” e visando ainda salvaguardar “condições para que os vizinhos da Rússia se sintam absolutamente seguros”, concluiu João Gomes Cravinho.
Na sequência da guerra na Ucrânia, dois países europeus vizinhos da Rússia, a Finlândia e a Suécia, iniciaram um debate sobre a adesão à NATO, que, a concretizar-se, significará o abandono da histórica posição de não-alinhamento.
As autoridades de Helsínquia já confirmaram esta intenção, hoje de manhã.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, das quais mais de 5,5 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.