Vão ser agitados os próximos dias, quem sabe meses, em Espanha.
Desde logo, porque começou esta terça-feira, e se vai prolongar por mais três meses, o julgamento, no Tribunal Supremo espanhol, de 12 dirigentes independentistas catalães (nove destes acusados estão detidos preventivamente há mais de um ano) acusados de estar envolvidos na tentativa de secessão da Catalunha, em outubro de 2017.
O antigo presidente do Tribunal Supremo, Carlos Lesmes, declarou mesmo este como sendo “o processo judicial mais importante da democracia espanhola”, pedindo o Ministério Público penas até aos 25 anos de prisão para os acusados por alegados delitos de rebelião, sedição, desvio de fundos e desobediência.
No banco dos reús estão, entre outros, o ex-vice-presidente da Generalitat, Oriol Junqueras, vários ex-membros do Governo regional ou a antiga presidente do Parlamento catalão, Carme Forcadell.
Ausente estará, naturalmente, Carles Puigdemont, ex-presidente do Governo regional catalão e principal figura da tentativa de independência, que, poucos dias antes de ser chamado a comparecer a um juiz de instrução, fugiu de Espanha para Bruxelas e beneficiará de no país não se julgarem pessoas à revelia em delitos com este grau de gravidade.
Não vai ser julgado, Puigdemont, mas falou esta terça-feira, em Berlim, defendendo que “não há provas, não há actos, não há crime”, razão pela qual, diz, “a única sentença justa é a absolvição”.
Do Tribunal Supremo para o Parlamento espanhol, a Catalunha tem igualmente aqui um peso tremendo, uma vez que a Esquerda Republicana da Catalunha e o PdeCAT, partidos independentistas que suportam (desde junho) o Governo do primeiro-ministro Pedro Sánchez (PSOE), ameaçam bloquear a aprovação do Orçamento Geral de Estado para 2019 (esta terça-feira decorre o primeiro dia do debate das emendas ao Orçamento) caso o Executivo não se predisponha a uma abertura de conversações sobre a autodeterminação da Catalunha.
Pedro Sánchez não abordaria diretamente o assunto “Catalunha”, mas a sua ministra da Economia, Maria José Montero, garantiu que o Governo “não vai ceder a qualquer chantagem por parte de ninguém”. E concluiu: “Em nenhumas circunstâncias vamos aceitar que o direito à autodeterminação da Catalunha apareça”.
Ora, assim sendo, amanhã, e chumbado o Orçamento – os socialistas do PSOE têm somente 84 deputados num total de 350; o outro partido que sustenta o Governo é o Unidos Podemos (67 deputados), estando a aprovação dependente de partidos mais pequenos, como os nacionalistas bascos ou os independentistas catalães –, esse chumbo pode obrigar Sánchez a convocar, na próxima semana, eleições gerais já para 14 de abril, como garantia ontem à agência EFE fonte do Executivo espanhol.
Como se a Catalunha, pelo Orçamento e pelo julgamento, não estivesse já no centro do “mundo” espanhol, na rua, e durante a manhã desta terça-feira, os Comités de Defesa da República (CDR), manifestando-se contra o início do julgamento, cortaram o trânsito (queimando pneus) em vários pontos de uma importante autoestrada da Catalunha e provocaram dificuldades na circulação de carros na Gran Via de Barcelona.