Ao final da manhã desta segunda-feira, dois inspetores da Segurança Social entraram no lar no Lar "Delicado Raminho", na Lourinhã, para averiguar as condições de assistência aos cerca de 60 utentes daquela instituição.
Este lar foi alvo de uma reportagem da SIC na qual foram denunciados maus-tratos aos idosos ali institucionalizados, a troco de uma verba média de 1.500 euros mensais.
Entre outras, as imagens da reportagem davam conta de idosos com feridas no corpo, relatos da falta de higiene, más condições das instalações e má qualidade das refeições.
Pouco depois das 7h00, a Renascença viu duas funcionárias darem entrada ao serviço. Uma delas admitia problemas, já a outra dava conta de um certo exagero nos relatos. Mariana Capela, enfermeira na instituição, diz que - exceção feita às recorrentes avarias na caldeira, que obrigam as funcionárias a aquecer água nas panelas onde habitualmente fazem a sopa - é tudo falso.
Esta enfermeira explica ainda que recentemente, a Segurança Social esteve no lar, bem como o delegado de saúde, com uma equipa da saúde pública e que foi elaborado um relatório.
“Tratámos do que tínhamos a tratar, como problemas com os dispensadores de álcool gel que estavam partidos, alguns caixotes do lixo que estavam sem pedal. Mas nada que leve a dizer que os utentes são maltratados", assegura.
Quanto às feridas dos vários utentes que não estarão a ser tratadas, Mariana Capela desmente. Estão a ser cuidadas e não foi no lar que os idosos as contraíram, mas sim no Hospital de Torres Vedras.
"Temos utentes que vêm feridos, com úlceras de pressão (escaras) e extremamente desidratados. Temos uma senhora que deu lá uma queda e que veio cheia de pontos na cara e com uma fratura nos ossos do nariz. Uma senhora com demência, que foi sentada sem um imobilizador, sem nada. Uma senhora com alto risco de queda", explica.
Com o passar das horas, cada vez mais familiares de utentes chegavam e pediam para entrar, para se inteirarem da situação. É o caso de duas filhas de uma utente, que, ansiosas e preocupadas com o que assistiram na televisão, vieram perceber com os seus próprios olhos se de facto era assim. A dúvida existia, já que sempre que visitavam a mãe, era numa sala à parte e não no quarto onde se encontrava alojada.
Encontrava, porque é intenção da família colocá-la noutro local.
Francisco Santos, genro de outro utente, relata que não ficou agradado com o que viu. À Renascença adiantou que a diretora do lar lhe terá confirmado apenas que a situação denunciada com as luvas dos funcionários, utilizadas para a higiene dos utentes, eram usadas ao longo do dia, não sendo trocadas antes de tratar de cada utente - pode ter ocorrido. No entanto, assegurou a diretora do lar ao genro do utente, se assim aconteceu foi por culpa das funcionárias, porque não há falta de luvas.
Apesar das explicações, a família já sabe o que vai fazer.
"Já contactámos o nosso advogado e vamos apresentar queixa na GNR da Lourinhã, porque algo de estranho se passa aqui", assegura.