O correspondente da Renascença em Bruxelas, Vasco Gandra, explica que as reacções foram de muita prudência na capital europeia, mas ninguém esconde que se abre um período de incerteza e expectativa.
Os líderes das instituições europeias felicitaram Donald Trump. Esperam agora saber concretamente quais as intenções do Presidente eleito em matérias como o comércio, clima, energia e segurança. Por isso, convidaram Trump a visitar a Europa para uma cimeira. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, diz que os Estados Unidos e a Europa só têm uma opção: cooperar de forma estreita.
Os europeus esperam manter a relação privilegiada com os Estados Unidos, por exemplo, na área comércio. Bruxelas está há mais de 3 anos em negociações com Washington para um acordo de comércio e investimento. Mas com uma nova Administração norte americana proteccionista, o futuro do acordo é agora ainda mais incerto. Para já haverá uma pausa nas negociações até à tomada de posse da nova administração, diz a comissária europeia do Comércio, Cecilia Malmstrom.
Por seu lado, Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, diz que “o Donald Trump Presidente vai ser diferente daquele que se ouviu durante a campanha eleitoral”.
Basicamente, a União Europeia oscila entre a incerteza e a esperança numa estreita cooperação com a futura Administração Trump.
Foi partindo deste ponto que abrimos o espaço de análise neste Visto de Bruxelas com Francisco Sarsfield Cabral, habitual comentador da Renascença de temas europeus, e com Álvaro de Vasconcelos, do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia.
Ambos procuraram dar resposta à forma como será possível salvar a União Europeia do contágio dos efeitos populistas do discurso de Donald Trump. Mas também importa saber se a Europa será capaz de olhar mais para os problemas concretos das pessoas do que para os interesses dos mercados financeiros.
Trump usou o discurso de que estava a pôr as pessoas “em primeiro lugar”, para ganhar votos junto dos que estavam cansados de serem deixados para trás pela globalização e isso funcionou. É um discurso semelhante ao da extrema direita francesa, personificada por Marine Le Pen. Importa analisar se esta vitória de Donald Trump - de certa forma - legitima o discurso da Frente Nacional Francesa.
Álvaro de Vasconcelos conhece bem a realidade francesa. Viveu durante vários anos em Paris, onde dirigiu o Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia. Na sua opinião, a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos pode ser o empurrão de que Marine Le Pen necessita para forçar uma segunda volta nas presidenciais francesas marcadas para o próximo ano. E se esse cenário se vier a concretizar, o quê que pode acontecer? A França pode acordar no dia seguinte às eleições com uma presidente fora do chamado eixo tradicional? São temas em debate.
Nesta edição olhamos também para as previsões de Outono, aquém das estimativas de Lisboa. A Comissão Europeia revê em baixa o crescimento económico em Portugal. Bruxelas divulgou esta semana as previsões de Outono que ficam aquém das estimativas do Governo. Um processo recordado pelo correspondente Vasco Gandra.