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Emmanuel Macron, Presidente francês, acredita que a União Europeia enfrenta a "hora da verdade" para decidir o futuro da organização, com a luta para travar a pandemia da Covid-19 e as respetivas consequências financeiras. Em entrevista ao "Financial Times", o líder francês apela à solidariedade económica na UE.
"Estamos no momento da verdade em que vamos decidir se a União Europeia é um projeto político ou só um projeto de mercado. Eu acho que é um projeto político. Precisamos de medidas financeiras e solidariedade, só assim é que a UE vai aguentar", diz.
Macron critica os argumentos populistas e vê conflitos nos seus argumentos em relação à União Europeia.
"Quando temos uma epidemia, dizem para resolver. São a favor da Europa quando isso significa poderem exportar os bens que produzem, são a favor da União Europeia quando significa comprar as partes dos carros que já não produzem, mas não são a favor quando isso significa partilhar o fardo", diz.
Alguns governos europeus anunciaram a total suspensão da democracia, com o exemplo mais vincado da Hungria, em que o presidente Viktor Orban lidera por decreto, uma posição que Macron é totalmente contra: "Não podemos aceitar isso, não podemos abandonar o nosso ADN só porque temos uma crise de saúde", explica.
"Temos de inventar algo novo"
Emmanuel Macron não esconde a incerteza no combate à Covid-19 e reconhece que não sabe dizer se o mundo atravessa o início ou o meio da crise do novo coronavírus.
"Enfrentamos a necessidade profunda de inventar algo novo, é tudo o que podemos fazer. Não sei se estamos no início ou a meia desta crise, ninguém sabe. Há muita incerteza e isso deveria tornar-nos muito humildes", afirma.
As medidas de isolamento social colocaram um forte travão na economia dos países do mundo e na vida das pessoas, decisões sem precedentes na história mundial: "É um profundo choque antropológico. Paramos metade do mundo para poder salvar vidas, não há registo disto na nossa história".
Macron reconhece o teor "brutal" das medidas implementadas para travar a propagação da pandemia, mas garante que não hesitará em tomá-las para continuar a salvar vidas.
"Ninguém hesita ao tomar uma medida profunda e brutal quando se trata de salvar vidas. Estas grandes pandemias respiratórias costumavam parecer sempre muito distantes, porque aconteciam sempre na Ásia. O impacto das alterações climáticas também parecem sempre muito distantes, porque afeta mais a África e o Pacífico. Mas quando chega até ti, é hora de acordar", diz.
China não revela tudo e fim de ciclo na globalização
Esta sexta-feira, Wuhan - epicentro da pandemia da Covid-19 - fez a revisão dos critérios de contabilização dos óbitos pela doença, o que fez subir os números de 2.579 para 3.869. Macron acredita que na China "há claramente coisas que aconteceram que não sabemos".
"Dadas as diferenças [regime político], as escolhas que a China tomou e o que o país é hoje, que eu respeito, não podemos ser ingénuos e achar que foram muito melhores a lidar com a situação. Não sabemos, há claramente coisas que aconteceram e que nós não sabemos delas", diz.
Macron acredita que a pandemia mudará a "natureza da globalização com a qual vivemos nos últimos 40 anos". "Achávamos que já não existiam fronteiras. Tudo se resumia a circulação mais rápida e acumulação", diz.
Nos últimos anos, o líder francês explica que já era possível ver que o mundo estava a chegar a um fim de ciclo na globalização, que começava a "a minar a democracia".
"A globalização teve os seus grandes sucessos. Acabou com os totalitaristas, houve a queda do muro de Berlim e tirou milhões de pessoas da pobreza. No entanto, nos últimos anos começaram a aumentar as desigualdades nos países desenvolvidos. Era claro que este tipo de globalização estava a chegar a um fim de ciclo, porque estava a minar a democracia", termina.
A Covid-19 já infetou mais de 2,1 milhões de pessoas em todo o mundo, depois de ter começado em Wuhan, na China. No total, já faleceram cerca de 150 mil pessoas devido ao coronavírus e mais de meio milhão já recuperaram.
À data, Portugal contabiliza 18.841 infetados, 629 mortos e 493 recuperados devida à Covid-19.