D. Manuel Clemente não precisa que o defendam. O que tem feito na vida - enquanto homem, padre, bispo e cardeal - fala por si.
A sua voz serena, por vezes incómoda, é uma referência. Viu-se isso recentemente.
O que disse sobre a eutanásia demonstrou que o Cardeal não abdica de defender a vida, com clareza e firmeza, em todas as circunstâncias. Não é novidade no seu pensamento nem no da Igreja. Mas há quem se incomode.
Agora, a propósito de uma queixa de pedofilia que se terá passado há mais de 20 anos com um padre de Lisboa, D. Manuel Clemente, que se encontrou com a suposta vítima em 2019, vieram ao de cima reações leves, epidérmicas e claramente ofensivas.
A alegada vítima terá pedido ao Cardeal que não desejava ser expressamente identificada, no âmbito de um caso que, aliás, tudo indica já ter prescrito.
A prescrição não invalida que, nesta ou noutra situação, a pedofilia seja um crime inaceitável. E a Igreja, ao contrário do resto da sociedade, tem feito o seu caminho para erradicar comportamentos inaceitáveis, seja qual for o seu pretexto ou enquadramento.
Este caso agora noticiado, como qualquer outro, pode e deve ser investigado.
Mas o modo como tem sido noticiado pode ser confundido com uma campanha, contra um Cardeal que incomoda e uma instituição que desagrada a certas correntes da sociedade.
Jornalismo de investigação é uma coisa, enlamear nomes de pessoas sem cuidar do apuramento dos factos é outra.
Saber ‘titular’ em jornalismo é uma arte, fazê-lo sem rigor é um truque.
Dar informação credível é indispensável. Servi-la às fatias, de modo incompleto e preconceituoso, é jornalismo tendencioso. Nem é jornalismo.
Por incompetência ou de forma deliberada, confunde-se a parte com o todo, criando uma atmosfera e um estigma não de suspeição, mas de culpabilização.
Por mais que desagrade a certas vozes, a pedofilia na Igreja não é regra, mas exceção. Gravíssima, sem dúvida, mas ainda assim rara, para uma instituição que se relaciona com milhões e milhões de pessoas em todo o mundo.
Parece haver quem pretenda o contrário. Alguns comentadores, até pediram ao Papa que demitisse D. Manuel. Nem precisaram de apurar a verdade. Tanto lhes faz. Criada a aparência, proceda-se em conformidade.
Depois de ver os comentários de Ana Gomes sobre este caso, voltei a agradecer o seu falhanço como candidata à Presidência da República. Tanta ligeireza numa embaixadora a que o país deve bons serviços em Timor é, no mínimo, uma tristeza. Atira-se a temas que desconhece, com todas as certezas do mundo.
Investigue-se até ao fim o que for necessário investigar. Mas não se confunda investigação séria com julgamentos prévios e inaceitáveis - por comentadores, jornais ou plataformas digitais.
A verdade precisa do jornalismo, mas jornalismo sem verdade não passa de um embuste. É triste, mas é verdade.