O bispo emérito de Bordéus, Jean-Pierre Ricard, que esteve mais de 14 anos na Congregação para a Doutrina da Fé, confessou
ter agredido uma menor de 14 anos, há 35 anos, numa ação que admite ter sido
“repreensível”.
O anúncio foi feito esta segunda-feira à tarde, pelo presidente da Conferência Episcopal da França (CEF), Eric de Moulins-Beaufort, reunida em Lourdes para a assembleia plenária de outono.
“Há 35 anos, quando era pároco, comportei-me de forma reprovável com uma menina de 14 anos. O meu comportamento necessariamente causou consequências graves e duradouras a esta pessoa”, escreveu o cardeal em mensagem lida por Moulins-Beaufort.
O cardeal, de 78 anos, assegura, ainda, que se colocou à disposição da Justiça, tanto cível quanto canónica, e que pediu “perdão” à vítima.
O bispo de Bordéus, Jean-Paul James, expressou simpatia pelas vítimas e renovou o apelo à denúncia de mais casos que possam ter acontecido.
Outro prelado acusado é Michel Santier, bispo de Luçon e, depois, de Créteil, que admitiu ter pedido, na década de 1990, a dois jovens que se despissem por cada pecado confessado. Foi punido em 2021 pelas autoridades do Vaticano por “abuso espiritual e voyeurismo”. No entanto, o silêncio em torno da sua sanção provocou, nas últimas semanas, uma forte reação entre católicos e grupos de vítimas.
“Hoje há seis casos de bispos [no ativo] que foram acusados perante a justiça do nosso país ou perante a justiça canónica”, disse o presidente da CEF.
Sem entrar em detalhes, o bispo Eric de Moulins-Beaufort apontou a “grande diversidade de situações em relações aos atos cometidos ou de que são acusados”, vincando que a Igreja tem o dever de garantir que os bispos e outros funcionários “não usem o seu estatuto eclesial para prejudicar pessoas frágeis ou vulneráveis”.
“A Igreja deve acompanhar os possíveis culpados com misericórdia, mas também com justiça”, declarou.
Os acusados enfrentarão processos civis ou procedimentos disciplinares da Igreja.
Há cerca de um ano, uma investigação encontrou indícios de milhares de casos de pedofilia no seio da Igreja Católica francesa. Um estudo polémico e que foi alvo de contestação pela metodologia usada.
Os 120 membros da Conferência Episcopal da França (CEF) estão reunidos desde quinta-feira em Lourdes para a assembleia plenária de outono. O objetivo, entre outras coisas, é trabalhar em “propostas concretas” para melhorar a comunicação e a transparência nas medidas canónicas tomadas contra clérigos implicados em casos de violência sexual.