A solidariedade dos portugueses durante os incêndios de Verão e, sobretudo, na tragédia de Pedrógão Grande foi uma grande demonstração de caridade, diz Eugénio da Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa.
“Sem dúvida. A caridade está estigmatizada, porque a associamos, por práticas mal conduzidas em nome da caridade, a um mero assistencialismo”, mas a “preocupação que se gerou em volta do drama dos incêndios é uma manifestação de caridade, porque caridade é amar os outros”, defendeu na Manhã da Renascença.
“A caridade é amar os outros e o que os portugueses fizeram foi dizer ao outro: ‘quero-te bem. És para mim muito caro’. E esse é o sentido da palavra caridade”, reforçou.
Quanto às ajudas que custam a dar mostras de vida, Eugénio da Fonseca pede aos portugueses “que compreendam que a situação de acompanhamento das famílias atingidas por este drama tem a sua complexidade e que, nalgumas circunstâncias, não vai ao ritmo que gostaríamos”.
“Temos de compreender que, na construção, está em causa muitas vezes legalização de terrenos, a elaboração de projectos para a construção de casas dignas e seguras, para que a normalidade da vida resulte ainda coim mais qualidade e menos adversidades que aquelas que deram origem a esta situação”, refere.
“Mas vamos todos continuar a fazer pressão para que os mais responsáveis pela retoma da normalidade da vida destas pessoas possa acontecer o mais rapidamente possível”, acrescenta.
Mas há muita coisa a ser feita no terreno e já trabalho para mostrar. E aponta a Cáritas de Coimbra como exemplo.
“Todas as semanas emite uma informação do trabalho que está a ser realizado. Já está no processo de reconstrução de casas, neste momento está a terminar a recuperação de uma das casas, já estão elaborados todos os projectos analisados pelas famílias que verão reconstruídas essas casas para que também possam ter uma participação directa na recolha de materiais, na disposição da casa, porque tem de haver uma envolvência das pessoas”, descreve.
Quanto a outros concelhos também afectados pelo fogo – como Vila de Rei, Mação e Oleiros – o presidente da Cáritas diz que a instituição “já reconstruiu uma casa e as pessoas puderam regressar, já devolveu postos de trabalho em duas empresas que ficaram totalmente inoperáveis pela falta de instrumentos para poderem laborar, empresas de âmbito familiar, e está tudo preparado para reconstrução de oito casas em Mação”.
Nos restantes concelhos, e de acordo com o estabelecido entre a Cáritas Portuguesa e as Câmaras Municipais, estão a ser reunidos “os meios financeiros para que seja possível” avançar com a reconstrução.
“A pobreza não é uma fatalidade”
Apesar do crescimento económico, Portugal tem ainda 2,6 milhões de pessoas em risco de pobreza. “Quer dizer que este crescimento económico não está a chegar às populações mais atingidas”, diz o presidente da Cáritas Portuguesa.
Na opinião de Eugénio da Fonseca, “o problema crucial” que “gera sempre pobreza” reside na “distribuição dos rendimentos gerados”.
“Não basta pugnar pelo crescimento económico. Claro que é preciso crescimento para que haja distribuição, mas se não se distribuir com justiça esses proventos nada altera a situação das pessoas mais atingidas pelas carências económicas”, afirma.
“A desigualdade tem aprofundado as situações de pobreza e o receio que tenho é que algumas pessoas que caíram nos braços da pobreza em consequência da crise não consigam sair dela”, acrescenta.
Neste Dia Internacional da Caridade, o presidente da Cáritas Portuguesa afirma que “a pobreza não é uma fatalidade” e destaca que “a partilha vem, não só daquilo que possamos dar por via da solidariedade, mas também da justiça na repartição dos rendimentos”.