Lisboa vai ter uma paróquia para a população em situação de sem-abrigo
04-09-2024 - 07:15
 • Ângela Roque

Em entrevista à Renascença D. Rui Valério elogia trabalho das instituições católicas na ajuda aos sem teto em Lisboa, mas quer criar um local próprio para assegurar apoio espiritual. Patriarca há um ano, uma vez por mês continua a ser voluntário na rua.

O Patriarcado de Lisboa vai criar uma paróquia para a população em situação de sem-abrigo. Vai ser no interior da cidade, mas o local ainda não está definitivamente escolhido, por isso não é referido.

Em entrevista à Renascença, por ocasião do primeiro aniversário como Patriarca, D. Rui Valério explica que o objetivo é complementar a ajuda material garantida por várias instituições, algumas da Igreja, com este apoio na escuta e acompanhamento espiritual.

“Quando no Patriarcado, começámos a tomar consciência da necessidade de oferecermos aos nossos irmãos sem abrigo muito mais do que o simples alimento ou a roupa, começámos a pensar em abraçar um projeto, que não é propriamente uma novidade no Ocidente, já existe noutras grandes cidades, mas que tem em vista duas coisas: em primeiro lugar promover a real proximidade da Igreja com uma faixa da população significativa, e em segundo lugar fazer chegar a essas pessoas uma palavra, um sentimento, um auxílio”, adianta o Patriarca, que continua a ser voluntário.

“Tento, uma vez por mês, acompanhar um grupo que vai apoiar os sem abrigo com comida, vestuário, medicamentos e por vezes outro tipo de auxílio, quando é necessário e possível. É uma iniciativa que surgiu numa paróquia onde fui pároco, são dois grupos que uma vez por mês, cada um em domingos diferentes, vêm a Lisboa fazer essa partilha, e eu quando tenho disponibilidade vou com eles”, conta.

Foi numa dessas rondas, recente, que percebeu que este é um apoio que é urgente criar: “Cruzei-me com um senhor que era angolano e que me disse "estou aqui, não tenho papéis, logo não tenho trabalho, logo não tenho habitação, logo não tenho onde dormir, logo não tenho onde comer. E também não tenho ninguém a quem me possa queixar e dizer aquilo que estou a passar. Aquilo marcou-me! Quer dizer, no meio de tanta carência, este homem não tinha alguém com quem pudesse dialogar e contar a sua condição!".

“Uma estrutura como é a paróquia, é um lugar de escuta, é um centro e acolhimento, é um ponto onde a pessoa se pode aproximar”, sublinha D. Rui Valério. Esta será uma das prioridades do novo ano pastoral no Patriarcado.

“Tudo aquilo que tem a ver com o ser humano, particularmente com o ser humano que sofre, que está numa situação de debilidade ou fragilidade, isso é sempre prioritário”, acrescenta ainda.

Entre as instituições que apoiam os sem abrigo em Lisboa está a Comunidade Vida e Paz, que pertence ao Patriarcado, e a Associação João 13, ligada aos dominicanos, que diariamente assegura banho, roupa lavada e refeições quentes à população carenciada, incluindo muitos sem abrigo.

Nesta entrevista, o Patriarca não esconde a preocupação com a pobreza, que não desliga do fenómeno migratório, que por sua vez também está relacionado com o aumento dos sem abrigo, defendendo que a Europa tem de trabalhar mais em rede e ser mais solidária, para que se consiga enfrentar e resolver estes vários problemas.