​Portugal está a agir de forma "correta", diz OMS
20-04-2020 - 19:42
 • Lusa, com redação

Organização Mundial de Saúde alerta que a pandemia ainda não está estancada e é preciso reabrir a economia de forma "lenta e controlada". OMS compara a Covid-19 à gripe espanhola, que há um século matou 100 milhões de pessoas.

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A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que os números indicam que Portugal está a reagir de forma correta em relação à covid-19, mas alerta para os perigos de levantar o confinamento demasiado rápido.

Numa conferência de imprensa na sede da organização, em Genebra, Michael Ryan, diretor do programa de emergências sanitárias, embora admitindo não estar a par de todos os dados sobre Portugal, disse que os números indicam que o país agiu de forma correta e que "a boa notícia" é que o ritmo de crescimento da doença está estável.

"Creio que [Portugal] agiu de forma racionalmente correta, os números indicam isso", afirmou.

Tal não significa, adverte Michael Ryan, que a epidemia tenha sido estancada.

A epidemiologista Maria Van Kerkhove, responsável máxima na resposta da OMS à covid-19, acrescentou, avisando que não se referia só a Portugal, mas também a outros países, que é muito bom a estabilização de casos.

Maria Van Kerkhove referiu que é preciso continuar a aprender com outros países, como com alguns países asiáticos que estão a encontrar mais casos de covid-19, para que não se levantem as situações de confinamento muito rapidamente, o que pode levar a um aumento de casos.

Mesmo com os sucessos "temos de continuar muito atentos", advertiu, acrescentando que precisamente porque há uma grande parte da população não infetada "o vírus pode voltar", pelo que é preciso agir nas medidas (de voltar à normalidade) de forma "lenta e controlada".

OMS compara pandemia à "gripe espanhola"

O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, compara a pandemia de covid-19 à chamada “gripe espanhola” que há um século matou 100 milhões de pessoas, mas disse que “desastre” idêntico pode ser evitado.

Falando numa conferência de imprensa na sede da organização, em Genebra, Tedros Adhanom Ghebreyesus referiu-se à epidemia de covid-19 como “o inimigo público número um”, que combina a capacidade de contágio de uma gripe com a letalidade das epidemias de MERS e SARS (síndromes respiratórios agudos provocados igualmente por coronavírus).

É uma “combinação muito perigosa” que está a acontecer, como aconteceu há cem anos (1918/19) e que matou 100 milhões de pessoas, mas hoje temos “uma situação diferente”, temos tecnologias e podemos “evitar essa catástrofe” de há cem anos, afirmou.

Tedros Adhanom Ghebreyesus insistiu na perigosidade do vírus, admitiu que o pior ainda possa estar para vir, mas salientou que é preciso acreditar que é possível lutar contra a doença, que requer, insistiu, solidariedade nacional e mundial. Porque sem isso “será pior”.

“Dissemos que o vírus iria surpreender os países mais desenvolvidos, e isso está a acontecer”, acrescentou, em tom dramático.

O responsável insistiu igualmente na necessidade de se olhar para as estatísticas vendo os números, mas também as pessoas que eles representam, para que a pandemia de covid-19 não se transforme em quadros com números.

Antes o diretor-geral já tinha alertado que flexibilizar as medidas de contenção não quer dizer que a doença acabou e sublinhou que os confinamentos ajudam a refrear a epidemia, mas não lhe põem fim.

Tedros Adhanom Ghebreyesus referiu ainda que a OMS está a trabalhar com várias entidades para desenvolver testes à covid-19, e que os dados de estudos serológicos em vários países indicam que uma percentagem muito baixa da população está infetada com o novo coronavírus, inclusivamente em áreas fortemente infetadas.

OMS não escondeu nada aos EUA

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, garante, por seu lado, que a organização escondeu nada aos Estados Unidos em relação ao que estava a ser feito em termos de resposta à pandemia.

Cerca de 15 elementos do Centro de Controlo de Doenças (CDC, na sigla inglesa) dos Estados Unidos têm estado a apoiar a OMS desde janeiro.

"Ter a ajuda do pessoal do CDC significa que nada foi escondido aos Estados Unidos, desde o primeiro dia. Todos os países recebem informação imediatamente", declarou Tedros Adhanom Ghebreyesus.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou na semana passada a suspensão do financiamento à OMS, acusando a instituição de defender os interesses da China.

Os Estados Unidos são o maior financiador da OMS e também o país com mais casos de Covid-19.

A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 165 mil mortos e infetou quase 2,5 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Em Portugal, morreram 735 pessoas das 20.863 registadas como infetadas, de acordo com dados divulgados hoje pela Direção-Geral da Saúde.