A administração do Novo Banco afirmou, nesta quarta-feira, que a auditoria da Deloitte incide sobre ativos que pertenciam ao BES e foram herdados pelo Novo Banco.
Incide, pois, sobre atos de gestão entre 2000 e 2018 e não traz qualquer novidade nem revela qualquer irregularidade ou má gestão, defendeu o presidente executivo da instituição bancária em conferência de imprensa.
António Ramalho mostrou-se, aliás, muito satisfeito por já se poder defender de tudo o que tem lido e ouvido nos últimos tempos.
“Gostaria que percebessem que este ciclo de silêncio se deve a razões pura e simplesmente éticas – razões de ética empresarial, que significa que o silêncio dos gestores deve ser total quando estão a ser auditados e, sobretudo, quando essa auditoria nasce de uma exigência legal, aprovada na Assembleia da República”, começou por dizer.
Uma vez a “auditoria entregue, terminou o ciclo do silêncio e iniciou-se o do esclarecimento”, prosseguiu.
Assim, sobre os quatro mil milhões de euros relativos a perdas na gestão de ativos, António Ramalho diz ser passado, anterior a 2014, ainda da herança do BES.
“Nem percebo a pergunta, porque estes quatro mil milhões já existiram, já aconteceram”, reage.
“Esta auditoria apenas é sobre aquilo que já aconteceu, entre 2000 e 2018. A maior parte de todas estas perdas dizem respeito a ativos, maioritariamente ou muito maioritariamente ou quase totalmente, que pertenciam e foram do BES e transferidos para o Novo Banco a 4 de agosto de 2014. Portanto, os poderes não têm que se preocupar porque a auditoria vê o passado”, esclarece.
O presidente executivo do Novo Banco garante que não acrescentou mais nenhum negócio que fizesse aumentar as perdas reveladas pela auditoria.
“Das perdas mais de 95% são por ativos originados previamente a 2014. Não há um único novo crédito, um único novo nome que sido concedido posteriormente à resolução”, assegurou.
“Todas as operações foram realizadas de forma pública”
Sobre as polémicas vendas de imobiliário, de outros bancos e seguradoras, o administrador diz quetudo foi feito dentro das regras do mercado e com o escrutínio permanente da supervisão nacional e europeia.
“O preço final de todas as vendas que foram realizadas é alcançado de acordo com o ‘benchmark’ do nosso mercado. O banco tinha o compromisso de reduzir o seu legado tóxico e tinha que o fazer”, começou por afirmar.
“Todas as operações foram realizadas com o apoio de assessores internacionais de primeira linha e sujeitos a todos os controlos adequados. Todas as operações de venda de portefólio foram realizadas, não debaixo da mesa, mas em forma pública por concurso, uma forma internacional, transparente e organizada. E todas as operações foram divulgadas na devida altura e sujeitas a normas de escrutínio dos reguladores e do mercado”, garantiu.
Confrontado com o facto de o Ministério das Finanças ter enviado a auditoria para o Ministério Público, António Ramalho não se mostra preocupado.
“O Novo Banco regularmente colabora com o Ministério Público, porque, sendo herdeiro do património do BES, naturalmente está permanentemente a dar muita informação ao Ministério Público e dará toda a informação ao Ministério Público”, defendeu.
O relatório sobre a auditoria realizada pela empresa Deloitte já está pronto e foi enviado, na terça-feira, ao Ministério Público. Analisou atos de gestão no Banco Espírito Santo (BES) e no Novo Banco de 1 de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2018, e incidiu sobre "283 operações que integram o objeto da auditoria, abrangendo, portanto, quer o período de atividade do Banco Espírito Santo, quer o período de atividade do Novo Banco".
Segundo o Ministério das Finanças, este conjunto de operações originaram perdas de 4.042 milhões de euros para o Novo Banco entre 4 de agosto de 2014 (um dia após a resolução do BES) e 31 de dezembro de 2018.