Presidente do Montenegro "quer acelerar adesão à UE"
25-10-2023 - 12:04
 • Renascença com Lusa

O compromisso assumido pelo recém-eleito Presidente com a adesão à UE parece desmentir as acusações generalizadas de grupos pró-ocidentais no Montenegro e na Sérvia, que acusam Milatovic de ser um fantoche de Moscovo.

O recém-eleito Presidente do Montenegro pretende acelerar a candidatura do país à União Europeia (UE) e aderir à linha política do bloco comunitário sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, noticiou esta quarta-feira a imprensa internacional.

"Uma das principais prioridades da política externa do Montenegro, e como novo Presidente do país, será acelerar a adesão do país à UE, para que Montenegro se torne o próximo membro nos próximos cinco anos do meu mandato", afirmou Jakov Milatovic à agência de notícias Associated Press (AP) numa entrevista realizada na segunda-feira.

O compromisso assumido pelo recém-eleito Presidente com a adesão à UE parece desmentir as acusações generalizadas de grupos pró-ocidentais no Montenegro e na Sérvia, que têm afirmado que Milatovic é um fantoche de Moscovo.

Milatovic - um antigo ministro da Economia de 36 anos, formado no Ocidente - venceu a segunda volta das eleições presidenciais do Montenegro no domingo, derrotando o pró-Ocidente Milo Djukanovic, que está no poder há mais de três décadas no pequeno país membro da NATO.

Apoiado pela maioria governamental do Montenegro, que inclui grupos pró-sérvios e pró-russos, Milatovic obteve cerca de 60% dos votos no domingo, segundo projeções de entidades independentes.

Djukanovic já admitiu a derrota e os resultados finais oficiais são esperados esta semana.

Milatovic disse que as principais razões para a derrota de Djukanovic foram o seu longo período no poder e as alegações de corrupção durante o seu Governo.

"É por isso que gostamos de dizer que derrotamos um dos últimos ditadores da Europa", disse Milatovic.

"É por isso que realmente acredito que a vitória [de domingo] neste pequeno Estado balcânico é também uma grande vitória europeia, uma vitória dos valores europeus", acrescentou o Presidente eleito.

Esta foi a primeira derrota de Djukanovic numa eleição desde que entrou na política, no início da década de 1990.

Durante décadas no poder, Djukanovic, de 61 anos, mudou de comunista pró-sérvio para político pró-Ocidente, ocupando o cargo de Presidente do país por duas vezes e o de primeiro-ministro sete vezes.

Durante a sua liderança, Djukanovic foi frequentemente acusado de corrupção e de pressionar o poder judicial a ignorar vários casos relacionados com corrupção. Sempre negou ter acumulado ilegalmente uma grande fortuna pessoal e para a sua família.

Na entrevista à AP, Milatovic disse que o seu antecessor "é realmente um símbolo de um regime que governou o país usando o crime organizado e a corrupção".

"Estas três coisas, um declínio económico significativo, o crime organizado e a corrupção, além de uma integração europeia muito lenta, são os símbolos do regime [de Djukanovic]", afirmou.

As relações entre a Sérvia e o Montenegro deterioraram-se desde que Djukanovic tirou o país da união com a Sérvia em 2006 e, mais tarde, por ter entrado na NATO em 2017.

Durante a campanha eleitoral, Djukanovic disse que os eleitores estavam a escolher entre pertencer à UE ou ingressar no "mundo sérvio" -- uma cópia do "mundo russo".

Milatovic afirmou ainda que tentará reparar as relações com a Sérvia, bem como com outros Estados vizinhos dos Balcãs.

"Acredito que o futuro de todos os países dos Balcãs Ocidentais está na UE, e acho que Montenegro pode ser, com certeza, o primeiro a entrar", disse Milatovic, referindo-se aos vizinhos Sérvia, Macedónia do Norte, Bósnia e Albânia.

Em relação às relações com a Rússia, Milatovic lembrou que "Montenegro está, fortemente, a seguir a 100% a política externa da UE e assim permanecerá".

"Portanto, a política de pleno direito da UE é a que Montenegro deve seguir no futuro, e é particularmente importante agora quando se trata da agressão russa contra a Ucrânia", disse Milatovic.

E concluiu: "Não há ninguém na Europa, e obviamente no Montenegro, que possa apoiar a invasão de um país contra outro país soberano".

Embora a Presidência seja em grande parte uma posição cerimonial no Montenegro, influencia as tendências políticas do país.