O ex-acionista da TAP Humberto Pedrosa disse hoje que sem a intervenção do Estado, em 2020, a companhia aérea acabava, mas considerou que a forma poderia ter sido outra, através de prestações acessórias e não em capital.
"Na realidade, não havia outra solução, senão a intervenção do Estado português na TAP. Esses fundos eram essenciais, ou o Estado intervinha e colocava os fundos necessários na TAP ou a TAP acabava e acho que foi uma boa opção", considerou Humberto Pedrosa, na comissão parlamentar de inquérito à companhia aérea, questionado pelo deputado social-democrata Paulo Moniz.
O empresário considerou, no entanto, que a intervenção poderia ter sido através de prestações acessórias, e não em capital, ou mesmo uma opção mista.
Humberto Pedrosa rejeitou a ideia de ter sido "escorraçado" da TAP, porque, "na realidade, chegou a um ponto de não haver condições para poder continuar".
"Eu via que a estratégia do Governo não contava comigo. Como não contava comigo, eu não estava ali a fazer nada, mas a minha decisão [de sair] foi tardia", apontou, garantindo não ter "chorado" o dinheiro que deixou na companhia. "Eu poderia, com alguma antecedência, ter saído, mas eu apostava na companhia e gosto da companhia e acredito [nela]", reiterou.
Questionado ainda pelo PSD sobre o interesse da Lufthansa em comprar a TAP, antes da pandemia, Pedrosa disse ter conhecimento de um interessado, embora desconheça que fosse a companhia alemã.
Devido àquele interesse, foi feita uma avaliação ao valor da TAP, que apontava para um número entre os 800 e 1.000 milhões de euros.
Humberto Pedrosa disse mesmo que, se a pandemia de covid-19 se atrasasse mais um mês, "provavelmente seria feito o negócio".
Questionado sobre a nova privatização que Governo pretende fazer, Pedrosa considerou que pode haver "uma solução intermédia", continuando a TAP pública mas com um contrato de gestão privada.
Já em resposta ao deputado socialista Bruno Aragão, sobre o negócio com a Airbus negociado por David Neeleman, o dono do grupo Barraqueiro disse continuar convicto de que o seu parceiro de consórcio "fez sempre o melhor para a TAP", embora tenha discordado quanto à decisão de acabar com o voo que fazia a ligação entre Campinas (Brasil) e Lisboa, que acabou por passar a ser feito pela Azul, companhia aérea onde David Neeleman tem uma participação.
Questionado se entendeu que a Azul faria concorrência à TAP voando para a Europa a partir da desistência de "slots" (faixas horárias) da companhia portuguesa, Humberto Pedrosa foi perentório: "É claro que sim".
"Hoje é difícil controlar a concorrência. Entretanto a Azul passou a voar para Portugal. [...] É difícil, mas eu gosto dessas perguntas, sabe?", respondeu a Bruno Aragão.
Mais tarde, em resposta ao deputado do Chega Filipe Melo, Humberto Pedrosa disse não acreditar que David Neeleman tivesse ganhado com aquelas decisões, mas admitiu que "no meio de tudo, provavelmente, a Azul ganhou".