No seu discurso oficial na Casa Branca, Francisco foi inequívoco: disse ter vindo aos EUA para “celebrar e apoiar a instituição do matrimónio e da família, neste momento crítico da história da nossa civilização”.
No dia anterior, ainda em Cuba, o Papa também se encontrara com um alargado grupo de famílias, na Catedral de Santiago, com um discurso igualmente eloquente: “A família salva-nos dos fenómenos actuais: a fragmentação (divisão) e a massificação. Em ambos os casos, as pessoas transformam-se em indivíduos isolados, fáceis de manipular e de controlar.” Por isso, e “apesar de tantas dificuldades que hoje atravessam, não nos esqueçamos que as famílias não são problema, são principalmente uma oportunidade”, uma vez que “as nossas famílias são verdadeiros espaços de liberdade” e “verdadeiros centros de humanidade”.
Claro que é disto que se trata quando, a partir deste domingo e nas próximas três semanas, mais de 300 bispos dos cinco continentes se reunirem com o Papa para aprofundar “A vocação e missão da Família na Igreja e no mundo”.
É certo que, à luz da fé, o actual panorama da família, sobretudo no “primeiro mundo”, não é animador, mas o mesmo não se verifica noutros pontos do mundo, como por exemplo no Médio Oriente ou em grande parte do continente africano.
Estas diferenças tornaram-se evidentes durante o sínodo do ano passado (sobre os desafios pastorais que a família enfrenta), com frequentes divergências sobre alguns aspectos da doutrina católica, nomeadamente o acesso à Eucaristia por parte dos casados em segunda união e o lugar dos homossexuais na Igreja - questões introduzidas por alguns bispos e cardeais europeus, defensores de uma maior “abertura à modernidade”, com o pretexto de os seus fiéis se afastarem da Igreja por considerarem os preceitos morais católicos desactualizados.
Francisco – que prefere a Igreja "acidentada" em vez de estagnada – ouviu os argumentos de um lado e do outro e testemunhou as tensões com que decorreram os trabalhos do sínodo passado. E, no final, afirmou que o diálogo sobre a Família deveria prosseguir neste sínodo que agora começa.
Desta vez, haverá ainda mais diálogo porque a agenda dos trabalhos prevê mais tempo para troca de experiências em grupos pequenos.
É pois provável que os média voltem a extremar posições e a exaltar divergências entre os pastores, como se de campos de batalha se tratasse... mas, independentemente do que vier a acontecer, uma coisa é certa: Francisco quer os bispos e os cardeais no terreno, ao lado das famílias, não tanto para “fazer discursos, criticar a sociedade moderna ou exaltar os méritos do cristianismo”, mas sobretudo (como disse em Filadélfia aos bispos que participaram na Jornada Mundial da Família), “para relançar o entusiasmo pela constituição de famílias que correspondam plenamente à bênção de Deus, segundo a sua vocação”.