O Padre Daniel Kouobou, sacerdote dehoniano camaronês, admite que o recente rapto de oito pessoas ligadas à Igreja nos Camarões pode envolver membros separatistas e classifica o ataque à Igreja como “uma novidade, porque até agora os sacerdotes eram respeitados naquelas zonas e eram mesmo um sinal de esperança para as pessoas”.
O sacerdote garante que “mesmo os separatistas tinham problemas se se soubesse que alguém atacou a Igreja ou o sacerdote”. “Isto é uma novidade e até agora não podemos dizer qual é a verdadeira razão", reforça.
O sequestro dos cinco sacerdotes, uma religiosa e dois leigos, por homens armados, na diocese de Manfé, onde também foi queimada a Igreja de Santa Maria, aconteceu no último sábado, e até ao momento ainda não foi reivindicado.
Na Nigéria, enquanto aguarda visto para viajar para Portugal, o padre Daniel revela à Renascença a sua experiência passada, na diocese de Bamenda, onde trabalhou vários anos e “onde podia haver raptos de pessoas, mas eram pessoas que iam contra a lei deles (separatistas), e, por exemplo, se eles diziam que na segunda-feira ninguém devia sair, e se fossem trabalhar ou fazer outra coisa, então nessa altura os separatistas podiam raptar-te, mas nunca se atacou a Igreja”.
Por isso, “o que aconteceu na diocese de Manfé é mesmo horrível porque não só raptaram as pessoas, mas puseram fogo à Igreja", descreveu, lembrando que "imediatamente o Bispo foi aquela paróquia para dizer: isto é horrível e são pessoas da vossa terra que estão a fazer isto”.
O padre Daniel admite a possibilidade de a Igreja “nunca mais abrir ali portas, porque, se demonstraram que não querem Deus na sua terra com este escândalo é muito difícil para o bispo e para a Igreja aceitar isso”. O sacerdote, que fez a sua formação teológica em Portugal, considera “muito difícil” a intervenção das autoridades, porque “em primeiro lugar é preciso saber quem raptou os sacerdotes e leigos e saber qual o diálogo que se deve manter”
“É muito difícil e neste caso está em causa a vida das pessoas e aqueles grupos não brincam e podem matar-nos. É mesmo uma situação muito complicada e deve ser tudo feito para tentar libertar as pessoas porque enquanto estiverem presos qualquer palavra pode precipitar a situação e eles podem ser mortos. Eles podem matar aquelas pessoas”, alerta.
“Rezem por estas pessoas”
Nesta entrevista à Renascença, o padre Daniel faz também um apelo à oração dos portugueses: “Eu gostava de chamar o povo português e particularmente os cristãos para rezarem por estas pessoas que foram raptadas porque é um momento muito difícil em que, se a pessoa não tiver uma fé grande, pode perder tudo”.
O sacerdote revela ter vivido “naquele contexto” e admite saber “um pouco do que estão a passar agora”.
Depois, o padre Daniel afirma que o que se está a passar resulta “também da falta de viver uma boa fraternidade”. “Temos todos de trabalhar para a unidade. Temos todos de construir a nossa fraternidade porque aquilo que está a acontecer nos Camarões, aconteceu na Nigéria e nós não sabemos onde vai acontecer no futuro”, conclui.