Pelo menos duas pessoas morreram na sequência da queda do que se supõe serem dois mísseis de origem russa, esta terça-feira, em território da Polónia, segundo avança uma fonte dos serviços secretos norte-americanos citada pela AFP. A Rússia já negou o ataque.
As bombas caíram na zona de Przewodów, a cerca de 10 quilómetros da fronteira com a Ucrânia. Terão atingido uma exploração agrícola.
Por agora, o Pentágono não confirma, mas também não desmente a ocorrência de um incidente desta natureza em território da NATO.
Em conferência de imprensa, o porta-voz do Pentágono reconheceu que, nesta altura, não há evidências suficientes sobre o terá motivado este incidente.
“Neste momento, não temos informações que permitam corroborar esses relatórios. Mas estamos a levá-los a sério”, disse o general Pat Ryder.
“Não quero especular nem alimentar hipóteses. Mas quando o que está em causa são os compromissos de segurança e o artigo quinto, somos absolutamente cristalinos: vamos defender cada milímetro do território da NATO”, acrescentou.
Rússia nega ataque, Zelensky fala em "escalada significativa"
O Ministério da Defesa da Rússia já negou qualquer ataque contra território da Polónia.
“As declarações dos media e das autoridades polacas sobre a suposta queda de mísseis ‘russos’ na área de Przewoduv são uma provocação deliberada para agravar a situação. Nenhum ataque a alvos perto da fronteira ucraniano-polaca foi feito por rockets russos. Os destroços divulgados pelos media polacos na vila de Przewoduv não têm nada a ver com armas russas”, referem as autoridades de Moscovo.
Ainda do lado de Moscovo, Margarita Simonyan, editora-chefe do canal Russia Today, disse que “antes de acusarem um país capaz de transformar a Polónia em cinzas, deem-se ao trabalho de apresentar evidências”.
Simonyan devolve as acusações de Kiev e fala de erro ucraniano ou provocação da Polónia ou do Reino Unido.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, declarou que a Polónia foi atingida por mísseis russos.
“O terror não se limita às nossas fronteiras nacionais. Mísseis russos atingiram a Polónia… para disparar mísseis contra o território da NATO. Este é um ataque de míssil russo à segurança coletiva! Esta é uma escalada muito significativa. Devemos agir.”
Costa diz que é hora de “construir a paz”
O primeiro-ministro, António Costa, afirma que “é preciso aguardar pela confirmação da origem dos mísseis” que atingiram hoje a Polónia, provocando dois mortos, antes de a NATO tomar qualquer posição em relação à Rússia.
“É preciso aguardar pela confirmação da origem dos mísseis, mas há algo sobre o qual não é preciso esperar, é que qualquer arma de guerra é letal, qualquer arma de guerra deve ser evitada e não deve ser utilizada”, disse António Costa, aos jornalistas.
Para o primeiro-ministro português, esta é a hora de “construir a paz”, porque a “Rússia não pode ganhar a guerra”.
Reação da NATO "nunca será automática"
Perante os dados disponíveis nesta altura, o major-general Carlos Branco considera prematuro que este incidente possa alterar radicalmente o rumo do conflito na Ucrânia.
Em declarações à Renascença, o militar reconhece que estamos perante uma situação “muito preocupante, mas penso que não podemos avaliar de uma forma alarmista”.
Nesse sentido, o major-general Carlos Branco exclui, por agora, a possibilidade de uma reação por parte da Aliança Atlântica na sequência deste incidente.
“A reação nunca será automática. A reação exige, de imediato, uma reunião de emergência do Conselho do Atlântico Norte e, aí, com mais informação, será recolhida a opinião dos diferentes países e será tomada uma decisão. Mas, imediatamente, não podemos concluir que vai ser acionado o Artigo 5.º, não excluindo, naturalmente, essa possibilidade e que podemos entrar imediatamente para um confronto entre a NATO e a Rússia”, concluiu.
O artigo 5.º do Tratado da Aliança Atlântica refere que "um ataque armado contra uma ou vários membros na Europa ou na América do Norte será considerado um ataque a todos".
Alguns analistas admitem que os mísseis tivessem como destino alvos na cidade ucraniana de Lviv.
Os mísseis atingiram território polaco no dia em que a Rússia disparou pelo menos 85 mísseis contra várias cidades ucranianas, incluindo Kiev.
Grande parte do território da Moldávia ficou esta terça-feira sem energia elétrica em resultado dos bombardeamentos russos na Ucrânia, adianta a AFP.
Oficialmente, as autoridades dos Estados Unidos ainda não confirmaram a informação. "Estamos cientes dos relatos da imprensa alegando que dois mísseis russos atingiram um local dentro da Polónia, perto da fronteira com a Ucrânia. Posso dizer que não temos nenhuma informação neste momento para corroborar esses relatórios e estamos a investigar isso mais a fundo", declarou o porta-voz do Pentágono, Patrick Ryder.
O primeiro-ministro da Polónia, Mateusz Morawiecki, já convocou uma reunião e emergência após o incidente.
O ministro da Defesa da Letónia, Artis Pabriks, já manifestou solidariedade para com a Polónia.
“As minhas condolências aos nossos irmãos de armas polacos. O criminoso regime russo disparou mísseis que atingiram não apenas os civis ucranianos, mas também atingiram o território da NATO na Polónia. A Letónia apoia totalmente os amigos polacos e condena este crime”, escreveu Artis Pabriks, na rede social Twitter.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Estónia também reagiu ao incidente desta terça-feira.
“As últimas notícias da Polónia são as mais preocupantes. Estamos a consultar de perto a Polónia e outros Aliados. A Estónia está pronta para defender cada centímetro do território da NATO. Somos totalmente solidários com nosso aliado próximo, a Polónia.”
O Governo da Hungria também convocou uma reunião do conselho de segurança do país, para analisar a explosão de mísseis na Polónia e a suspensão do fornecimento de petróleo através do pipeline de Druzhba.