A polícia e os manifestantes pró-democracia envolveram-se na tarde desta sexta-feira – já noite em Hong Kong – em confrontos no aeroporto de Hong Kong, em mais um episódio da crise política na região administrativa especial chinesa. Pelo segundo dia consecutivo, as chegadas e partidas foram seriamente afetadas e os check-ins encontram-se mesmo suspensos.
Um dos polícias chegou a ser encurralado pela multidão, que lhe retirou o próprio bastão e o agrediu. O grupo apenas dispersou quando o polícia puxou de uma pistola. De resto, há muitas imagens do caos vivido ao longo dia nas redes sociais.
No aeroporto, os ativistas estão geralmente vestidos de preto, a imagem de marca do movimento pró-democracia, e gritam: “Levanta-te Hong Kong, levanta-te para a liberdade”. Houve outro momento de agitação quando uma pessoa foi retirada da infraestrutura por uma equipa médica, depois de ter sido agredida por alegadamente ser um polícia chinês à paisana.
Durante o dia, os manifestantes concentraram-se no terminal um, na zona onde se efetuam os check-ins, tentando bloquear as entradas na zona central, usadas pela polícia. As imagens abaixo, feitas no terminal 2, mostram todas as saídas bloqueadas.
Preocupação internacional
Donald Trump já reagiu, publicando um tweet em que diz que o governo chinês está a movimentar tropas na fronteira, uma notícia já confirmada pelos próprios meios de comunicação estatal do país. O Governo chinês vê aqui “sinais de terrorismo” e por isso parece preparado para agir com mais força.
Os protestos no território já duram há dois meses e meio, estando em causa um projeto de lei que prevê que suspeitos de crimes no território sejam extraditados para a China para serem julgados. Entretanto, as reivindicações alargaram-se para uma exigência de democracia.
Os manifestantes consideram que a autonomia de Hong Kong está em causa, mas Carrie Lam, a líder do executivo de Hong Kong, que segue uma linha pró-Pequim, diz que a cidade está num “caminho sem retorno”. Lam defendeu a atuação da polícia e desvaloriza os pedidos para a sua demissão, garantindo que o diálogo só será retomado “após a violência parar”.
Em comunicado, a Alta Comissária para os Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, pede moderação: “Podem ver-se agentes policiais a disparar gás lacrimogéneo para zonas fechadas e cheias de pessoas e diretamente para alguns manifestantes em várias ocasiões, criando um risco considerável de morte ou lesões graves”.
Hong Kong é, desde 1997, uma região administrativa especial chinesa, tal como Macau, beneficiando de um elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judicial, sendo o Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.
Os manifestantes temem que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial como qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a salvaguarda dos direitos humanos.
Os defensores da lei argumentam que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países como a China, tal poderá transformar Hong Kong num "refúgio para criminosos internacionais".