Portugal perdeu a “capacidade de planear” e está a falhar na promoção da ciência junto dos mais novos, alerta o reitor da Universidade do Porto, em declarações à Renascença.
António Sousa Pereira está preocupado com a falta de soluções para problemas estruturais do país, apontando como exemplo o recente plano de emergência para resolver a falta de professores.
“Planos de emergência são sempre planos de emergência, resolvem as coisas durante um período limitado de tempo. Eu queria ver era medidas estruturais, de fundo, que permitam planear um futuro sem necessidade de medidas de emergência. Esse plano de fundo ainda não vi”, lamenta o reitor.
Numa visão alargada, António Sousa Pereira reforça que “não podemos viver continuamente de planos de emergência” e lamenta que os governos mais recentes tenham deixado de saber planear.
“De alguma forma perdeu-se a capacidade de planear o futuro em Portugal, mas espero que se recupera essa capacidade”, disse.
Sousa Pereira deseja que “os Ministérios críticos voltem a ter gabinetes de estudos, como em tempos já tiveram, que eram gabinetes de estudos que faziam trabalho sério, que permitia planear o futuro. Isso acabou”.
“Os gabinetes de estudos dos Ministérios foram desaparecendo, um a um, porque foram considerados supérfluos e dispensáveis, mas é imperioso que se voltem a criar gabinetes de estudos de forma a planear o nosso futuro a longo prazo, para não andarmos permanentemente a viver de planos de contingência planos de emergência”, reforça.
Gosto pela ciência "não está a ser estimulado"
Nestas declarações à Renascença, António Sousa Pereira mostra-se particularmente preocupado com a falta de investimento na promoção da ciência junto dos mais novos, uma falha que, antecipa, pode sair cara ao país.
O reitor da Universidade do Porto defende que “o país tem que investir muito para que os jovens se interessem pela ciência e para que os jovens percebam que uma carreira que tenha por base disciplinas como física e matemática é uma carreira de futuro”.
“Neste momento, os nossos jovens, no ensino secundário, fogem da física e da matemática como o diabo foge da cruz, porque não está a ser estimulado esse gosto por estas áreas e isto tem que ser levado muito a sério, sob pena de nós termos um país hipotecado”, alerta.
Nesse sentido, António Sousa Pereira sugere, por exemplo, que seja retomado o prémio “Ciência na Escola”, da Fundação Ilídio Pinho. Segundo o reitor da Universidade do Porto, este prémio que teve 17 edições impactou meio milhão de alunos e terminou por vontade do Ministério da Educação, na altura liderado por Tiago Brandão Rodrigues, no segundo Governo de António Costa.