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“Carmen”, chamemos-lhe assim, não se quer identificar. É médica no Hospital 12 de Outubro, em Madrid, uma unidade hospitalar conhecida pelos fortes recursos estruturais e pelos equipamentos tecnológicos, onde trabalham cerca de seis mil profissionais de saúde.
No entanto, é também deste hospital que surge uma queixa já generalizada por parte daqueles que recebem doentes com Covid-19: há falta de material e equipamento médico, muitos profissionais estão desprotegidos e os cuidados intensivos já não estão à beira, mas, sim, mergulhados no colapso.
Sem mãos a medir, e a enfrentar aquele que é visto como o pior cenário de calamidade pública desde a Guerra Civil espanhola, esta médica tirou dois minutos do seu tempo para relatar o que vive. Fala-nos a partir do hospital. À Renascença, "Carmen" denuncia: "há muitos casos que não estão a ser contabilizados e Madrid vai tornar-se numa nova Milão dentro de pouco tempo".
Este é o terceiro de vários relatos na primeira pessoa de médicos e enfermeiros de toda a Europa, numa altura em que Espanha é já o segundo país a superar a China em número de mortos: são mais de 4.000, fazendo-se ultrapassar apenas por Itália com 7.503 vítimas mortais a registar.
Independentemente do que diga o Governo, isto é um caos completo. Estou a descrever isto a partir de um serviço de urgências, do interior de um hospital, e a situação perdeu completamente o norte. Dentro de uma semana, posso assegurar-vos que estaremos iguais a Milão. Há muito mais casos do que aqueles que vos contam, que não são contabilizados. Só neste hospital há mais de 20 pacientes nos cuidados intensivos a morrer – e para a semana que vem já estarão mortos.
No centro de saúde, todos os dias temos cinco ou seis casos e não temos meios nem material para poder detetar o vírus. A saúde pública também não ajuda. Há pessoas que chegam ao hospital com outras patologias como pancreatites ou encefalites mas, na verdade, para além disso, já estão infetadas com coronavírus. Ou seja, daquilo que vos dizem, acreditem em metade. Pelo que nós podemos ver, posso garantir-vos que há muito mais casos.
Nós, os médicos, estamos devastados. Só penso em passar pelo centro de saúde para pedir uma baixa médica, porque a qualquer momento posso apanhar o vírus.
Outra coisa que não entendo: há pessoas que dizem que morrem com outras patologias, mas elas morrem mesmo é com coronavírus. As autoridades de saúde e o Governo dizem que é o que está a acontecer com pessoas de 70 anos: que estão a morrer de outras coisas. Mas não, morrem por causa deste vírus. Há pessoas saudáveis com 25, 30 anos que estão a morrer por causa deste vírus. Estão internadas nos cuidados intensivos e a morrer aos poucos – inclusivamente médicos. É tudo mentira. Tudo mentir. É muito pior do que parece.
O pior é que com tantos profissionais de saúde doentes, o mais provável é que para a semana fiquemos todos de quarentena. Ah, outra coisa… Protejam-se o mais possível. As autoridades de saúde dizem que o mais importante é lavar as mãos. “Por favor lavem as mãos” é o que se ouve e dá até vontade de rir porque não pode ser o único conselho, nem podem dizer que é suficiente.
Utentes denunciam saturação dos hospitais, sem espaço para receber novos doentes
Nas últimas semanas têm sido vários os vídeos e fotografias recolhidas no interior de urgências de unidades de saúde onde doentes com Covid-19 veem-se obrigados a sentar-se no chão ou até mesmo a deitar-se sobre lençóis nos corredores dos hospitais para que sejam atendidos.
A primeira publicação surge do interior do Hospital 12 de Outubro, em Madrid, precisamente onde Carmen trabalha.