A diretora da Obra Católica Portuguesa das Migrações (OCMP), Eugénia Quaresma, considera urgente que a nível político se combatam as causas das migrações e atuar contra as redes criminosas.
Esta tomada de posição surge face a mais uma tragédia que levou à morte de 63 pessoas - 56 à fome - numa piroga resgatada em Cabo Verde, após um mês no mar, com 101 viajantes a bordo,
Eugénia Quaresma lamenta a tragédia que mostra o quanto “é importante reforçar as políticas entre os países de emissão e os países de destino”.
“Nós sabemos as causas que levam estas pessoas a arriscar. Agora é, de facto, urgente que a nível político, a nível de desenvolvimento, se consiga também combater as causas destas migrações, até para se conseguir diminuir as travessias clandestinas, que deixam estas pessoas à deriva”, defende.
Nestas declarações à Renascença, a diretora da OCPM insiste que a resolução do problema depende essencialmente de uma maior e melhor coordenação entre estados e da criminalização dos aliciadores e traficantes.
“Eu creio que sim, que está na mão das políticas que já existem e que têm que existir de uma melhor cooperação, para terminar com isto. E também a nível da criminalização destes aliciadores, dos traficantes, dos contrabandistas, tem que haver também uma cooperação a nível policial entre os países para estancar, para travar isto”, diz Eugénia Quaresma.
Questionada pela Renascença sobre se há risco de aumentarem as tragédias com migrantes, a diretora da OCPM nota que os números têm estado a diminuir, mas não é por isso que deixam de ser chocantes.
“De acordo com a monotorização que tem estado a ser feita, os números até estão a diminuir, mas não é por isso que deixam de ser chocantes. E todas as vidas importam e, portanto, é urgente fazer com que estas tragédias parem”, defende.
Sobre a rota do Atlântico, Eugénia Quaresma diz tratar-se de uma “rota perigosa”, assinalando, no entanto, que o cerne da questão não se coloca na perigosidade da rota, mas, sim, nas causas que levam as pessoas a deixarem os seus países.
Por isso, defende que “é preciso trabalhar as condições que conduzem estas pessoas a embarcar, no que diz respeito à fome, à pobreza e ao emprego”.
“Depois, temos outras causas: o terrorismo, os fundamentalismos que provocam a fuga das pessoas”, acrescenta Eugénia Quaresma, observando que “as pessoas ou morrem no país de origem ou morrem a tentar escapar. A pessoa escolhe sempre a vida, mesmo que corra perigo”.
De acordo com um relatório da Cruz Vermelha, 63 pessoas morreram - 56 à fome - numa piroga resgatada em Cabo Verde, após um mês no mar.
“Até serem encontrados, estiveram 41 dias à deriva e a partir do sétimo dia esgotaram os mantimentos, o que custou a vida a mais de 50% dos ocupantes que foram lançados ao mar, devido à decomposição dos corpos”, detalha o documento, citando o comandante do barco pesqueiro que socorreu e ouviu os sobreviventes.
A piroga partiu do norte do Senegal, do porto de Saint Louis, na zona fronteiriça com a Mauritânia, no dia 7 de julho, com 101 migrantes, sendo a maioria de nacionalidade senegalesa e dois da Guiné-Bissau, refere o relatório.
O Senegal é um país de origem e trânsito de fluxos de migração com destino à Europa, cuja via Atlântica voltou a ganhar força com o fecho de fronteiras provocado pela pandemia de Covid-19 e a crise económica associada.