Andreia trabalha há 10 anos na fábrica da Cablerias, em Valença, e continua sem saber ao certo o que o futuro lhe reserva depois do final deste mês. Tanto mais que os sinais que surgem são contraditórios.
“As pessoas [em regime temporário] que foram despedidas estão a ser chamadas, outra vez, por empresas aqui do lado e estão a ser pagos por elas, mas estão a trabalhar aqui com a roupas da Cablerias”, revela a trabalhadora, admitindo que não sabe se essa poderá ser uma forma de salvar o futuro da empresa. “É tudo uma incógnita”, atira.
A administração “diz que o problema não é o trabalho, mas a falta de dinheiro para comprar os componentes”, explica Andreia, adiantando que a única coisa que está, para já, garantida é “o salário de dezembro e o subsídio de Natal”. “Depois, não sabemos” , lamenta.
A falta de capital para investir em matéria-prima é o argumento usado pela multinacional espanhola para justificar o processo de insolvência, mas não convence Joana. Galega a viver Valença e a trabalhar na Cablerias há sete anos, Joana acredita que ainda há “esperança”, uma vez que é tudo uma questão “de gestão”.
“Temos trabalho até rebentar, é verdade”, garante. “O problema é a gestão que estão a fazer. Eu tenho esperança de que algo se resolva porque é uma empresa grande que trabalha muito bem. Espero que alguém aposte na empresa”, afirma a funcionária.
“Levamos muitos anos e não tenho queixa de quem dirige aqui a empresa. Agora quem está acima não sei”, admite Joana, que confessa que, até agora, “estava tranquila” convencida de que a empresa “tinha um futuro”.
“Há uma preocupação enorme a nível social"
As dificuldades financeiras da Cablerias chegaram ao conhecimento da autarquia de Valença pela comunicação social.
O autarca José Manuel Carpinteira conta que, depois de duas tentativas falhadas, ainda não conseguiu reunir-se com a administração do grupo espanhol, mas admite a preocupação com o impacto social na região, caso se concretize o fecho da empresa.
“Há uma preocupação enorme a nível social para Valença e para a região. Mas, por enquanto, ainda não podemos confirmar já isso”, revela o autarca, lembrando que em causa estão 250 trabalhadores efetivos, para além, do número incerto de trabalhadores em regime temporário.
“A informação que temos é que metade dos trabalhadores não serão de Valença, mas obviamente que o impacto é sempre grande. Se não for só em Valença é nos concelhos vizinhos. Portanto, é uma grande preocupação”, admite o socialista .
A avançar o despedimento coletivo, será mais uma consequência da crise que o setor automóvel atravessa e que deixa o presidente do município de Valença, com várias empresas do setor sedeadas no concelho, em sobressalto.
“Estamos atentos porque temos várias outras empresas no parque industrial de Valença do setor automóvel”, explica José Manuel Carpinteira, adiantando que a autarquia já contactou essas empresas e teve a garantia de trabalho para os próximos tempos.
“O que nos foi dito é que próximos meses, pelo menos, não têm dificuldades, têm garantias de trabalho”, revela.
“A seguir, enfim, nas candidaturas para os próximos projetos, logo verão. Mas, neste momento, o horizonte para os próximos meses é que estão estabilizados sem nenhum problema”, conta.
A autarquia de Valença reúne-se quarta-feira com os trabalhadores da Cablerias. Falta a data para o encontro com administração do grupo espanhol de componentes para automóveis.
A administração da unidade de Valença do grupo espanhol avançou com o pedido de insolvência no início de dezembro. Uma semana depois de outra fábrica do setor automóvel, a Coindu, em Arcos de Valdevez, ter anunciado o fecho e o despedimento coletivo de 350 trabalhadores.