Com o aproximar das eleições do dia 7 de outubro, no Brasil, os candidatos prováveis a uma segunda volta são Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Ambos estão rodeados de controvérsia e a esperança que poderão mudar radicalmente o surto de violência e insatisfação popular é pouca.
Em Portugal, vivem mais de 85 mil brasileiros. Muitos, como é o caso de Daniel Assunção, não vão poder votar no próximo domingo. Daniel, que veio para Portugal há oito meses, votaria em Bolsonaro, se pudesse. Não que esteja à espera de um Brasil melhor, mas pelo menos, quer um abanão.
“Se eu estivesse no Brasil, eu votaria no Bolsonaro, seria o meu voto hoje. Por uma questão de mudança. Não que eu acredite que a coisa mudaria drasticamente, mas é uma mudança”, conta Daniel, de 42 anos. Funcionário num café, afirma que a política no Brasil está “velha” e que só tem “propostas diferentes para pegar os seus votos”.
Daniel veio para Portugal com a família, em busca de um porto seguro. Passou pela violência na sua cidade, Betim, no estado de Minas Gerais e recorda episódios que o fizeram questionar a sua vida no país. “Nós tivemos um assalto em família, e esse assalto me fez refletir bastante sobre a segurança pública. Estávamos em família, bastantes pessoas e chegaram 3 bandidos, nos rendaram na porta da casa de um parente, de um primo meu, roubaram todo o mundo, levaram o meu carro e ainda me queriam levar junto!”
É na defesa da população que vê alguma esperança em Jair Bolsonaro, apesar de não concordar com todas as políticas. “O Bolsonaro vai armar mais a população. A meu modo de ver, essa não seria a solução. A solução seria a polícia e o Ministério Público agirem”, diz.
Venha o diabo e escolha
Na estação da Trindade, encontramos Matheus Silva e Marcela Inocêncio. Chegaram ao Porto há um mês, ainda se estão a instalar. Como Daniel, também vieram à procura de uma vida mais pacífica, para começarem uma família, um ambiente que não conseguiam ter em Araras, no interior de São Paulo.
Matheus diz que, se pudesse, votaria em Bolsonaro, apesar de todas as polémicas. As razões são as mesmas das de Daniel: é preciso mudar. A esposa afasta-se, olha de lado e discorda. Nenhum candidato serve.
“Temos dois candidatos principais e eu acho que isso é muito vago. É muito pequeno isso”, diz Marcela, de 27 anos. Matheus, de 22, concorda: é Bolsonaro ou Haddad, porque não há melhor. “Acho que para o tamanho do país, os dois candidatos não estão à altura. Mas é o que a gente tem, não tem outras opções”.
Marcela, se votasse, escolhia João Amoêdo, pelo futuro. Para estas eleições, no entanto, não acredita na vitória. Espera pelas próximas eleições. “É a primeira vez que está concorrendo mas no futuro, quando ele finalmente conseguir essa posição, penso que fará a mudança que a gente precisa”, afirma.
Sobre Bolsonaro, Matheus não está preocupado com as declarações do candidato da extrema-direita e acusa a Globo de, muitas vezes, atirar achas para a fogueira. “Eu acredito que os media interferem muito. A rede Globo controla muita coisa e influencia a cabeça das pessoas. Inventa muita coisa. A gente não pode acreditar em tudo o que a gente vê.
Começar de baixo para cima
Os brasileiros são rápidos a apontar a estrutura brasileira como o grande problema para o país. A corrupção é um problema e a investigação Lava Jato veio mostrar o quão imbutida está nas empresas e políticos brasileiros.
Matheus e Marcela concordam que é preciso mudar a forma de pensar dos governantes, mas, primeiro, é fundamental os brasileiros também apontarem os dedos para eles próprios. “Acredito que grande parte da culpa disso é do próprio povo brasileiro. A corrupção não está só nos governos, também está no povo. E acho que o povo tem de entrar em harmonia”, diz o jovem, que diz que “não dá certo” haver pessoas que ainda querem votar em Lula da Silva, apesar de estar preso.
Os três não acreditam que alguma coisa vá mudar a curto prazo. Para já, o melhor que se poderá esperar, resume Marcela, é que o caminho do Brasil se endireite, a um longo prazo, em “passos de formiga”.
“Eu acho que são pouquíssimas coisas que vão ser feitas a um curto prazo. Acho que são problemas que estão muito enraizados historicamente e então para mudar aquela ‘chavinha’, tanto do povo, como dos órgãos públicos, dos cargos, e todo o problema social é algo que vai demorar”, conclui Marcela.
As eleições no Brasil são este domingo, dia 7, e para já, as sondagens apontam para uma segunda volta entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, a 28 de outubro.