Mais três cristãos foram assassinados na Nigéria, no espaço de três dias, aumentando a tensão inter-religiosa no país e o temor entre a comunidade cristã.
O caso mais recente a ser conhecido foi o do jovem Ropvil Daciya Dalep, um estudante de Biologia da universidade de Maiduguri, no norte do país, mas natural do Estado de Plateau, no centro, de apenas 22 anos.
Dalep tinha sido raptado em plena estrada no dia 9 de janeiro, quando regressava a Maidugiri, uma zona onde há muita atividade de grupos extremistas islâmicos. Desde então a sua família não soube mais nada dele.
No início desta semana, contudo, começou a circular um vídeo em que ele aparece de joelhos. Atrás encontra-se um rapaz de idade indeterminada, mas muito novo, que se identifica como um militante da Província de África Ocidental do Estado Islâmico, um grupo que se separou dos extremistas Boko Haram e que se diz representante naquela região do autoproclamado Estado Islâmico.
O rapaz informa que os muçulmanos jamais se esquecerão do que os cristãos da região centro do país fizeram “aos nossos pais e avós. Cristãos de todo o mundo devem saber que jamais esqueceremos as atrocidades cometidas contra nós, até que vinguemos todo o sangue que derramámos”.
De seguida dá dois tiros no estudante universitário cristão, um na nuca e outro nas costas, matando-o. A identidade de Dalep foi confirmada por membros do seu grupo étnico, em Plateau, que lamentaram a perseguição contra cristãos e convidaram os jovens a usar fumos negros.
Tensão inter-religiosa
A Nigéria tem sido palco de violência inter-religiosa há décadas. Atualmente a principal preocupação são os ataques de grupos terroristas como o Boko Haram e o Estado Islãmico contra cristãos, mas também contra muçulmanos que não alinham na sua ideologia extremista e instituições civis.
Existe também um conflito aberto entre membros de etnias muçulmanas que se costumam dedicar ao pastoreio e etnias cristãs que se dedicam à agricultura. Este conflito, secular, tem muito a ver com a posse e a exploração de recursos naturais, mas é agravada pela dimensão religiosa.
As atrocidades de que o jovem fala no vídeo podem referir-se a motins entre cristãos e muçulmanos que marcaram os primeiros anos do Século XXI e o final dos anos 90, sobretudo no centro do país, onde as duas comunidades estão mais misturadas. Tradicionalmente o norte da Nigéria é mais muçulmano e o sul mais cristão. Nesses motins, nomeadamente em Jos, houve casos de massacres de muçulmanos às mãos de cristãos, o que foi sempre condenado pelas autoridades das diferentes igrejas cristãs do país.
Também esta semana, na segunda-feira dia 20, foi confirmado o homicídio do pastor luterano Dennis Bagauri, morto a tiro na sua própria igreja, alegadamente por militantes do Boko Haram.
A sua morte aconteceu no mesmo dia em que foi divulgado o assassinato, por decapitação, de outro pastor evangélico, também pelo Boko Haram. Lawan Andimi era líder da sua igreja protestante e membro da Associação Cristã da Nigéria, que reúne crentes das diferentes confissões cristãs no país.
Dias antes de ser morto foi emitido um outro vídeo pelo Boko Haram, em que Andimi expressava a sua esperança em ser libertado, mas fazia também um testemunho de fé.
“Pela graça de Deus voltarei a estar com a minha mulher, os meus filhos e os meus colegas. Mas se essa oportunidade não surgir, talvez seja essa a vontade de Deus. Sejam pacientes, não chorem, não se preocupem. Dêem graças a Deus por tudo”, afirmou o pastor. Dias depois foi morto.
Seminaristas raptados
Ainda na Nigéria, que foi considerada um dos países mais perigosos para ser-se cristão em 2019 pela fundação Ajuda à Igreja que Sofre, continuam desaparecidos três seminaristas que foram raptados do seminário onde estudam.
Um quarto seminarista estava gravemente doente e foi libertado, estando agora a recuperar. A Igreja Católica está em negociações com os raptores para tentar assegurar a libertação dos restantes três. Neste caso não se sabe mais sobre os criminosos que os levaram, mas o facto de estarem a negociar pode indicar que são meros criminosos, movidos pelo desejo de ganhar dinheiro e não por qualquer especial animosidade religiosa.
Também desaparecida continua a jovem cristã Leah Sharibu. Raptada juntamente com mais de cem colegas de escola em 2018, Leah foi a única que não foi libertada, uma vez que a cristã se recusou sempre a renegar a sua fé.
A sua tenacidade tornou-se uma inspiração para os cristãos na Nigéria mas temia-se que tinha sido executada pelos militantes do Estado Islâmico. Contudo, segundo a organização Christian Solidarity Worldwide um trabalhador humanitário que foi recentemente libertado pelo mesmo grupo, a jovem está viva e de boa saúde, embora ainda na posse dos terroristas.