Ana Gomes tinha previsão de campanha divulgada aos jornalistas apenas para os dois primeiros dias: domingo em Setúbal, segunda-feira em Lisboa. A poucas horas do início oficial da campanha eleitoral, mesmo o que havia para esses dois dias foi cancelado. É, assim, a campanha para as presidenciais de 24 de janeiro que começa este domingo: pouca e incerta.
Com a pandemia a atingir cada vez mais portugueses e a preocupar cada vez mais médicos e políticos, a campanha eleitoral fica quase só reduzida a debates e tempos de antena. Voltas pelo país, comícios, jantares e arruadas são coisa que será pouco ou nada vista nestas presidenciais 2021, que entram no período oficial de campanha com a sombra de um eventual, ainda que pouco provável adiamento.
Só Marisa Matias, a candidata apoiada pelo Bloco, João Ferreira, o candidato comunista, e André Ventura, líder do Chega, mantêm agendas que tentam dar um certo sinal de normalidade com previsão de presença em vários distritos. Mas são agenda não fechadas e que, na maioria dos dias, ainda só indicam as localidades onde os candidatos contam estar, sem indicações das ações em concreto.
A reunião entre políticos e especialistas, marcada para terça-feira, 12, no Infarmed, em Lisboa, para a qual também foram convidados os candidatos presidenciais, pode ainda trazer mais alterações ao já pouco previsível programa destas presidenciais 2021. Nesse mesmo dia, os candidatos têm um debate com participação de todos, na RTP.
Marisa Matias
Entre pré-campanha e campanha, a candidata queria ir a todos os distritos, inclusive às regiões autónomas. Mas partiu duas costelas e, por isso, teve de adiar as viagens à madeira e aos Açores, que agora estão no calendário da campanha, mas ainda por confirmar.
Marisa Matias começa a sua campanha, este domingo de manhã com um encontro com antigas trabalhadoras da ex-Triumph. O encontro, que vai decorrer no Museu da Cerâmica de Sacavém, tem um duplo simbolismo: mostrar atenção às questões laborais e uma crítica velada a Marcelo, que nunca quis encontrar-se com estas trabalhadoras. À tarde, pelas 17h, tem um “comício virtual”, com transmissão na página do Bloco no Facebook.
Nesta campanha não haverá feiras, nem almoços ou jantares, mas haverá comícios, com uma participação reduzida de pessoas no local e transmissão nas redes sociais. A candidatura tenta ter três iniciativas por dia: de manhã, à tarde e à noite, mas são notórias as preocupações sanitárias, que fazem com que, por exemplo, em vez de ir a uma fábrica, a candidata se reúna com um grupo de trabalhadoras ou, em vez de um encontro com cuidadores informais, se encontre só com um.
Marcelo Rebelo de Sousa
O Presidente em exercício não tem qualquer previsão de campanha. Também não tem conta em nenhuma rede social. Marcelo Rebelo de Sousa atrasou até 7 de dezembro o anúncio da recandidatura, faz questão de não ter estrutura publicamente a trabalhar com ele e quando se pergunta a alguém próximo como vai ser a campanha, a resposta é “a campanha são os debates”.
Marcelo não precisa, de facto, de nenhuma volta ao país para se dar a conhecer e o princípio base da recandidatura é que quanto menos campanha fizer melhor; a mais valia do Presidente-recandidato é ser Presidente.
Tiago Mayan Gonçalves
É o candidato com agenda mais detalhada neste início de campanha, com encontros definidos e com hora marcada em cada dia. Um encontro por dia, dois nalguns dias, no máximo três.
Tiago Mayan só arranca com a campanha na segunda-feira, com o que chama de “início não oficial”: uma visita ao Belenenses, acompanhado pelo líder da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo. Ao longo da campanha, o candidato tem previstas visitas a fábricas, debates em faculdades, mas também visitas a instituições relacionadas com a proteção infantil e o apoio aos pobres. Um périplo que praticamente se limita aos distritos do Litoral e com mais densidade populacional.
André Ventura
André Ventura começa a sua campanha, este domingo, em Serpa e mantem o plano inicial de visitar todos os distritos do país. Mas, de acordo com um comunicado enviado às redações, “ irá decorrer da forma mais minimalista possível, com o menor número de pessoas envolvidas”. E isso inclui arruadas e comícios “com o menor número possível de elementos”.
Por enquanto, só estão previstos os primeiros dias de campanha: segunda-feira em Faro, terça em Évora, quarta Santarém. “Vamos analisando quase dia-a-dia na medida em que poderá haver diferentes medidas em diferentes zonas do país - esta é também a razão pela qual só os primeiros dias de campanha estão pormenorizados”, diz o mesmo comunicado da campanha de André Ventura, onde também é garantido que “ todas as atividades da campanha irão decorrer com o maior cuidado e no perfeito cumprimento das regras de segurança e higiene definidas pela DGS”.
Vitorino Silva
Vitorino Silva, como André Ventura, quer percorrer todos os distritos de Portugal continental até dia 24. E vai começar, este domingo, em Peniche para onde anuncia um “sermão às pedras”, numa alusão ao debate que teve com o líder do Chega, para onde Vitorino Silva levou um conjunto de pedras diferentes recolhidas na praia para servirem de metáfora à necessidade de inclusão e respeito por todos, por mais diferentes que sejam.
No segundo dia, este candidato, conhecido por Tino de Rans, vai ao Hospital de São João, no Porto, doar sangue. Na sua campanha, promete privilegiar o contacto pessoal, mas garantindo sempre o cumprimento das normas de segurança.
João Ferreira
O candidato comunista arranca a sua campanha no Porto, com um comício no Coliseu, que conta com a presença do secretário-geral do PCP, jerónimo de Sousa, e da ex-lider do PEV, Heloísa Apolónia, mandatária nacional de João Ferreira. O comício está marcado para as 11h da manhã, tendo em conta o recolher a partir das 13h.
O PCP rejeita de todo qualquer adiamento de eleições e faz questão de manter as iniciativas políticas, como aliás já tinha feito com o seu congresso, mas já foram canceladas arruadas e refeições coletivas devido à evolução da pandemia.
João Ferreira foi, provavelmente, o candidato que começou mais cedo, a ter ações de campanha a um ritmo regular e tem agenda indicativa até dia 22, com distribuição dos dias pelos distritos mais fortes para os comunistas: Lisboa, Setúbal, Évora, Beja, Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro e Coimbra.
Ana Gomes
A socialista devia começar a sua campanha oficial com um encontro com pescadores em Sesimbra, às 10h. Depois seguiria para a Quinta do Conde, para um encontro no centro social e cultura e daí iria para o Barreiro, onde teria uma sessão pública com o deputado André Pinotes Batista e o sindicalista Carlos Trindade. Na fim da tarde de sábado, um comunicado da candidatura indicava que ““todas as ações no terreno planeadas até ao final da campanha ficarão dependentes das novas medidas que, espera-se, serão tomadas pelo governo após a reunião com as autoridades sanitárias marcada para a próxima terça-feira, dia 12” .
Ao longo dos últimos três meses, Ana Gomes tentou fazer campanha pelo país e foi-se apercebendo da dificuldade em manter os planos. Teve algumas ações presenciais, mas também teve muitas sessões virtuais, com debates e conversas transmitidos pelo Facebook. Do inicialmente planeado, cerca de metade não aconteceu, um terço foi convertido em sessões por meios digitais e só cerca de 20 por centro terá sido cumprido.