Martha Gens, presidente da Associação Nacional de Defesa do Adepto (APDA), compreende que a decisão de não ter adeptos presentes na última jornada do campeonato tenha “alguma razão de equidade” para alguns, mas para os clubes que já têm o desfecho da época definido “nem tanto”.
Para Gens, a razão desta decisão parte do governo, para quem “nunca os adeptos foram uma prioridade até haver uma decisão da UEFA em realizar a final da Champions League em Portugal”.
“Só a partir daí se aperceberam que os adeptos até são importante”, diz em Bola Branca.
O impedimento de público na penúltima jornada do campeonato levou à decisão de não permitir a presença dos adeptos agora, confirmando que toda a edição da Liga 2020/2021 se realizou à porta fechada.
Tal como a Renascença avançou, a Liga de Clubes chegou a tentar que as últimas duas jornadas pudessem ser disputadas com adeptos nas bancadas, para que todos os clubes pudessem ter um jogo na presença dos seus adeptos, mas tal não foi aceite pelo governo e Direção-Geral de Saúde.
Os clubes foram contactados para abrirem portas no último fim-de-semana. O objetivo era encontrar uma solução equitativa para que os 18 emblemas do campeonato tivessem direito a um jogo com adeptos. A Liga tentou junto da Direção-Geral da Saúde, depois de ter ouvido a contestação dos clubes não contemplados com um jogo em casa, mas o Governo não permitiu.
“Estamos a falar de uma época, em Portugal, em que não houve adeptos nos recintos desportivos. Foi preciso vir a UEFA dizer que a final vai ser realizada num país onde os adeptos nacionais estão a ser altamente preteridos e altamente discriminados”, aponta Martha Gens, em entrevista à Renascença.
“Se calhar a UEFA tem de tomar mais decisões desta natureza, ou pelos menos em relação a Portugal. Aparentemente, só assim é que existem adeptos nos estádios”, completa.
Sobre a final da Taça de Portugal, a presidente da APDA considera que “faria todo o sentido”, não só a presença de público, como de adeptos de ambas as equipas.
“Não vejo porque não, se vai acontecer [na final da Champions], deveria existir permissão para a Taça de Portugal”, conclui.
Uma temporada inteira sem adeptos
Os adeptos têm estado longe das bancadas desde março de 2020, quando foi suspensa toda a prática de desporto em Portugal, incluindo o futebol profissional, com a entrada em vigor do primeiro estado de emergência.
Na Região Autónoma dos Açores, chegou a haver eventos desportivos, nomeadamente jogos do Santa Clara, com público, contudo tal não se repetia no continente, nem na Madeira. Em outubro, houve três jogos-piloto e dois desafios da seleção portuguesa de futebol com presença de adeptos, como teste, e o FC Porto recebeu público num encontro da Liga dos Campeões. Porém, a segunda vaga da pandemia do novo coronavírus deitou quaisquer planos de retoma da assistência por terra.
A 27 de fevereiro e 13 de março, o Santa Clara recebeu Paços de Ferreira e Portimonense, respetivamente, com adeptos nas bancadas, em virtude das medidas impostas nos Açores. Foi a primeira e última vez que se viu tal coisa em 2021. Quando o número de casos de Covid-19 no arquipélago voltou a crescer, o Estádio São Miguel voltou a estar fechado ao público.
A decisão surge depois da festa do campeonato do Sporting, quando dezenas de milhares de pessoas celebraram sem distanciamento, e muitas sem máscara, a conquista do Sporting, apesar do atual estado de calamidade. Milhares estiveram reunidos no exterior de Alvalade, com o estádio vazio durante o jogo com o Boavista.