Centenas de pessoas aproveitaram esta quarta-feira uma nova lei no Estado de Nova Iorque para processar instituições e figuras religiosas por alegados casos de abusos sexuais de menores.
A lei, que entrou esta quarta-feira em vigor, levanta durante um ano o prazo de prescrição de crimes de abuso sexual de menores. O período em vigor até agora era de cinco anos após a vítima atingir a maioridade, ou seja, as vítimas tinham até aos 23 anos para apresentar queixa.
Agora, durante um ano, quem tenha sofrido abusos na infância e tenha deixado passar o prazo pode ainda apresentar queixa. Ao final de um ano o novo prazo de prescrição passará a permitir que os autores sejam julgados até que as vítimas completem pelo menos 55 anos.
Entre as vítimas que aproveitaram esta abertura da lei está o sexagenário James Grein, que alega ter sido abusado durante vários anos pelo ex-cardeal Theodore McCarrick, um amigo da família, que o batizou. Foi precisamente no verão do ano passado que McCarrick, que foi arcebispo de Washington e um dos clérigos mais influentes da Igreja americana, se viu envolvido num escândalo, sendo acusado não só de abusar menores mas também de ter recrutado e mantido durante anos uma rede de jovens padres e seminaristas com quem mantinha relações sexuais, a troco de favores e promessas de promoção na carreira. McCarrick, que nunca reconheceu publicamente a sua culpa, começou por ser afastado do ministério, tendo sido entretanto expulso do Colégio dos Cardeais e, após um processo canónico, laicizado pela Santa Sé.
“É um dom de Deus podermos finalmente fazer isto”, disse Grein esta tarde. “Há anos que espero por isto. Sofri há muitos, muitos anos”.
O seu advogado, Mitchell Garabedian, foi bastante mais crítico para com a hierarquia católica. “O encobrimento acabou, e agora vamos mesmo até ao fundo. Tirem-lhes os paramentos, tirem-lhes a religião e não passam de criminosos”, disse, citado pela Reuters.
A arquidiocese de Nova Iorque publicou uma declaração em que reconhecia que a onda de novos processos não lhe surpreendia e em que pede orações “pela paz e pela cura de todos os que sofreram por causa do crime de abuso sexual de menores”.
A diocese disse também que continuaria a convidar todas as vítimas a recorrer a um fundo que estabeleceu em 2016 para compensar vítimas de abusos, independentemente de os crimes terem prescrito ou não. Esse fundo já entregou mais de 60 milhões de euros a mais de três centenas de vítimas, que ao aceitar o dinheiro abdicam do seu direito de processar judicialmente a diocese.
Os processos não abrangem apenas a Igreja Católica, mas podem ser interpostos em qualquer situação de abusos.