A Guarda Nacional Republicana (GNR) registou 1.816 acidentes nas estradas portuguesas, durante a Operação Páscoa 2023, dos quais resultaram 15 mortos, 45 feridos graves e 560 feridos leves.
Em comunicado, a força de segurança indica que foram fiscalizados 58.808 condutores. Desses, 517 conduziam com excesso de álcool e 349 foram detidos por possuírem uma taxa de álcool no sangue igual ou superior a 1,2 g/l. Foram, ainda, detidas 208 pessoas por conduzirem sem habilitação legal.
Durante a operação Páscoa 2023, a GNR passou 4.724 autos de contraordenação por excesso de velocidade, 1.152 por falta de inspeção periódica, 502 por anomalias nos sistemas de iluminação e sinalização, 551 por falta ou incorreta utilização do cinto de segurança e/ou sistema de retenção para crianças, 414 por falta de seguro de responsabilidade civil obrigatório e 395 por utilização indevida do telemóvel durante a condução.
Falta de efetivos na GNR
O aumento exponencial das vítimas mortais na Operação Páscoa da GNR leva os profissionais da Guarda a alertar novamente para a falta de efetivos. Uma situação que reduz a visibilidade das forças de segurança nas estradas e aumenta o sentimento de impunidade de alguns condutores.
O presidente da Associação de Profissionais da Guarda, César Nogueira, diz que há muitos postos que nem efetivos possuem para compor uma patrulha de resposta às ocorrências diárias.
“A falta de efetivos já não é nada de novo, mas é uma coisa já de há alguns anos para cá, em que a própria Guarda Nacional Republicana tem cerca de 5. 000 profissionais a menos que deveria ter”, sinaliza.
Referindo que até “tem havido alguns concursos”, lembra que “demoram tempo” e que, por isso, “não estão a colmatar essa falta de efetivo”.
“E isso nota-se em determinados locais, apesar de ser um problema a nível nacional; mas há locais que se nota mais do que outros, em que não conseguem formar até uma patrulha completa, que é aquela patrulha que tem que existir sempre, que é a patrulha às ocorrências”, acrescenta César Nogueira.
Problemas no ensino da condução e falta de mensagens de prevenção
Já o presidente do Automóvel Clube de Portugal, Carlos Barbosa, coloca a tónica na falta de qualidade dos condutores portugueses e explica os trágicos números da Páscoa com os problemas no ensino da condução e a falta de mensagens de prevenção.
“A motivação destes números é desastrosa. Estes números são desastrosos para a sinistralidade”, diz Carlos Barbosa.
E, na sua perspetiva, o problema tem a ver - “primeiro com o ensino e os exames em Portugal para se obter a licença de condução”, em que “as pessoas vão para as escolas para tirar a carta e não é para aprenderem a guiar”, e com a falta de campanhas de prevenção.
“As campanhas que foram retiradas do ar de várias entidades da sociedade civil, como é o caso da ACP, mantêm sempre campanhas na ANSR, que não resultam, porque são em cima do acontecimento, são só no fim de semana e penso que as campanhas têm que ser feitas durante o ano todo”, defende.
Verificar se penalizações aplicadas estão mesmo a ser cobradas e efetivadas
Por fim, João Almeida, ex-secretário de Estado da Administração Interna do governo do PSD e CDS, diz ter ficado bastante surpreendido com os números anunciados de mortes nas estradas, ainda para mais, quando a tendência era de queda nos últimos anos e a meteorologia até ajudou esta semana.
João Almeida afirma que, mais do que rever limites de velocidade ou o aumento das coimas pelas infrações nas estradas, há que verificar se as penalizações aplicadas estão mesmo a ser cobradas e efetivadas.
“Há aqui uma questão que é muito importante, que é a efetividade da aplicação das coimas e das sanções acessórias”, diz João Almeida, lembrando que esteve ligado à introdução do sistema da carta por pontos.
Um sistema - diz o ex-governante - que “ao ser quantitativo, permite uma noção maior da consequência daquilo que são as infrações”, a que se juntou “o portal das contraordenações e da possibilidade de qualquer pessoa poder ‘online’ saber qual é sua situação, tornar mais percecionável aquilo que é a realidade”.
“É possível que haja a necessidade de rever, de revisitar algumas destas matérias e, eventualmente, atualizar”, conclui.