Depois de uma visita histórica ao Iraque cujo balanço, comenta Henrique Monteiro, é positivo, o Papa Francisco volta com o sentimento de missão cumprida, alcançando para o comentador das segundas e sextas-feiras quatro objetivos diferentes:
1 - "apelou à tolerância" entre as diferentes religiões do país, tanto entre islâmicos sunitas e xiitas como entre os vários povos cristãos na região (católicos, ortodoxos, caldeus, etc.);
2 - "estendeu a mão aos xiitas", através do encontro em Nasaf com o ayatollah al-Sistani, um encontro particularmente histórico e relevante dados os confrontos ao longo dos anos entre o Ocidente e os xiitas, tanto no Iraque (nomeadamente através do apoio do sunita Saddam Hussein contra os xiitas do Irão), como no Líbano (através do Hezbollah). Mas Henrique Monteiro salientou que os "sunitas radicais também tiveram responsabilidade" em vários conflitos, nomeadamente através do apoio à al-Qaeda e ao califato do Daesh.
3 - "apelou ao regresso dos cristãos e das universidades", quando considerou uma "tragédia" que tantos cristãos tivessem abandonado e fugido daquela parte do mundo;
4 - e, segundo o comentador, "legitimou a configuração política do Iraque" como uma união de vários povos, com várias culturas e várias religiões. Ao viajar cerca de 1450 quilómetros entre Mossul, no Norte, e Ur, no Sul, atravessando locais significativos para religiões diferentes, o Papa ajudou a legitimar uma imagem de união política.
A principal mensagem que Henrique Monteiro retira da viagem é de união e paz, e de legitimação política. "O Iraque é um país que procura a democracia", diz o comentador, apesar de todas as dificuldades em consegui-la e apesar de todos os conflitos e guerras que assolaram o país.
Mas a maior mensagem foi dirigida aos xiitas e o Papa conseguiu que o ayatollah al-Sistani participasse nesse apelo à paz. O líder religioso dos muçulmanos xiitas pediu o fim da perseguição e dos ataques aos cristãos, "uma palavra muito importante" para o futuro da região, diz Henrique Monteiro.