Como melhorar as comunicações em caso de incêndio? Anacom faz recomendações
20-10-2017 - 17:05

Recomendações vão das estações aos postes e cabos e vão seguir para o Governo, operadoras e outras entidades.

A Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) vai recomendar à Assembleia da República, Governo, municípios e operadores de telecomunicações um conjunto de medidas para melhorar a protecção das infra-estruturas e serviços de telecomunicações em caso de incêndios, anunciou esta sexta-feira a entidade.

Após os incêndios de Pedrógão Grande, a Anacom decidiu averiguar o impacto dos incêndios florestais nas infra-estruturas das redes de comunicações electrónicas, "tendo constatado a exposição dessas redes a factores de elevado risco a incêndios florestais", lê-se no comunicado da autoridade.

"No trabalho feito pela Anacom foi identificada a necessidade de estabelecer um novo quadro legal e regulamentar sobre o planeamento, construção, reconstrução, reconversão e instalação de infra-estruturas de comunicações electrónicas e de infra-estruturas aptas ao alojamento destas", informou, acrescentando que "este novo quadro legal deverá incluir normas técnicas, incluindo no que respeita à protecção das infra-estruturas em caso de incêndio e outros desastres naturais".

Há também uma série de outras medidas identificadas pelo regulador do mercado das telecomunicações que visam a protecção das estações de radiocomunicações, dos postes, cabos e traçados aéreos de comunicações.

No caso das estações, a Anacom propõe o estabelecimento de uma faixa pavimentada ao seu redor com uma largura mínima adequada (exemplo: dois metros), o corte e desbaste das copas das árvores e de arbustos que estão próximos da estação (exemplo: cinco metros), a remoção das folhas e ramos secos que estejam no interior da vedação das estações, bem como a limpeza do terreno à volta da estação e o estabelecimento de uma faixa de gestão de material combustível com uma largura adequada (exemplo: 50 metros).

A Anacom sugere também a "fixação de requisitos que promovam a substituição de traçados aéreos de cabos de comunicações por traçados subterrâneos ou por feixes de rádio, no acesso à estação, e a partilha de trajectos nos traçados aéreos de cabos de comunicações e de cabos de alimentação de energia eléctrica, para criar e manter uma faixa de protecção contra incêndios com uma largura adequada".

No que respeita aos postes, cabos e traçados aéreos de comunicações, a Anacom propõe "o estabelecimento de requisitos técnicos que assegurem que nas áreas de risco recorrente é dada prioridade à instalação em traçado subterrâneo e não aéreo, seja aquando da construção e instalação de novas redes, seja nos casos de reconstrução após incêndios ou outra calamidade".

E realçou: "Neste processo devem ser aproveitadas infra-estruturas já existentes (exemplo: condutas em rodovias) ou adoptadas as melhores práticas constantes das recomendações da União Internacional das Telecomunicações (exemplo: perfuração horizontal dirigida e micro e mini valas)".

A Anacom defende ainda a colocação em cada poste de um identificador geo-referenciado, com indicação do proprietário e respectivo contacto, sobretudo nos casos em que estão situados em zonas de alta ou muito alta perigosidade de incêndio florestal.

"Nessas zonas deverá ainda ser estabelecida uma faixa de protecção contra incêndios com uma largura adequada (exemplo: cinco metros) ao longo dos traçados aéreos de cabos de comunicações", sublinhou, recomendando ainda que "sejam fixados requisitos e procedimentos de protecção contra incêndios dos postes de madeira (exemplo: pintura da base), e de resistência, no caso dos cabos de comunicações".

Segundo a Anacom, o objectivo destas medidas é "minimizar as situações de interrupção de serviço nos locais em que as falhas teriam impactos mais graves para as populações, como é o caso das redes de emergência e das sedes de concelho, onde se concentram elementos que prestam serviços essenciais à comunidade".

Entre estes locais são destacados a sede da autarquia, que é o centro da decisão onde funcionam os serviços municipais responsáveis pela segurança e protecção civil, o quartel dos bombeiros, o hospital/centro de saúde/farmácia, o posto das autoridades de segurança, a escola/pavilhão de recolha e assistência à população, e os centros de abastecimento de mantimentos, combustíveis e outros bens essenciais.

"A implementação das medidas preconizadas pela Anacom exigirá o envolvimento e consulta prévios de diversas entidades, públicas e privadas: Assembleia da República, Governo, municípios, operadores de comunicações electrónicas, fabricantes de máquinas e materiais, bem como dos instaladores", rematou a entidade.

As centenas de incêndios que deflagraram no domingo, o pior dia de fogos do ano segundo as autoridades, provocaram 43 mortos e cerca de 70 feridos, mais de uma dezena dos quais graves.

Os fogos obrigaram a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas, sobretudo nas regiões Norte e Centro.

Na segunda-feira, 16 de Outubro, a Anacom informou ter recebido o reporte de falhas das redes e serviços de telecomunicações de quatro operadoras.

Esta é a segunda situação mais grave de incêndios com mortos este ano, depois de Pedrógão Grande, em Junho, em que um fogo alastrou a outros municípios e provocou, segundo a contabilização oficial, 64 mortos e mais de 250 feridos. Registou-se ainda a morte de uma mulher que foi atropelada quando fugia deste fogo.