O ex-administrador da TAP Diogo Lacerda Machado assumiu hoje que houve pressão política quando o secretário de Estado Alberto Souto de Miranda lhe pediu para votar contra o orçamento da companhia aérea para 2020.
"O orçamento de uma empresa como a TAP não é para fazer política", respondeu o advogado à deputada Fátima Fonseca, do PS, e depois a Bernardo Blanco, da IL, depois de assumir ter havido pressão do Governo relativamente ao orçamento da companhia para 2020.
Face à insistência de Bernardo Blanco, Lacerda Machado disse que o então secretário de Estado Alberto Souto de Miranda, da equipa ministerial de Pedro Nuno Santos, lhe tinha pedido para votar contra o orçamento.
"Eu disse que não o faria", acrescentou Lacerda Machado, dizendo que explicou ao Governo que a legitimidade da sua decisão "vinha da eleição em assembleia-geral", mas se o executivo entendesse apresentava a renúncia ao cargo.
O ex-administrador não executivo disse ainda que a situação "não voltou a repetir-se".
Lacerda Machado deixou a administração da TAP em abril de 2021, antes de terminar o mandato.
Segundo o Expresso, o então ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e Lacerda Machado "andaram meses em rota de colisão sobre a estratégia para a empresa", tendo António Costa chegado a "intervir para corrigir o ministro".
Consultoria de Fernando Pinto por 1,6 milhões de euros foi "pouco para o que ele merecia", diz Lacerda Machado
Lacerda Machado considerou que o pagamento de 1,6 milhões de euros ao antigo presidente executivo Fernando Pinto por serviços de consultoria "foi pouco para o que ele merecia".
"Aquilo que se pagou ao engenheiro Fernando Pinto, na minha opinião, foi pouco para o que ele merecia", respondeu Diogo Lacerda Machado ao deputado Bernardo Blanco, da Iniciativa Liberal (IL), na comissão de inquérito à TAP.
O advogado foi questionado sobre o contrato de prestação de serviços entre a TAP e Fernando Pinto, após cessar funções como presidente executivo, no valor total de 1,6 milhões de euros, denunciado por Mariana Mortágua, na audição à ex-presidente executiva, Christine Ourmières-Widener, em 4 de abril.
"O senhor engenheiro Fernando Pinto era o depositário da história da TAP dos últimos 18 anos, segundo todo o reconhecimento devido ao engenheiro Fernando Pinto, era provavelmente pouco, porque ele geriu a TAP durante 15 anos, pelo menos, sem um cêntimo de capital", defendeu, realçando que, enquanto administrador não executivo da companhia aérea, "jamais prescindiria dos conselhos indispensáveis" de Fernando Pinto.
Quanto ao valor da prestação de serviços, Lacerda Machado disse que lhe explicaram depois que correspondia "exatamente" aos encargos que havia com Fernando Pinto enquanto CEO da TAP.
"Já vi contratos de consultoria muitíssimo mais caros", apontou.
O ex-administrador garantiu ainda que Fernando Pinto ia "muitas vezes à TAP", na altura da vigência da prestação de serviços, e que teve vários encontros informais com ele.
Lacerda Machado disse mesmo que, se voltasse atrás no tempo, "eventualmente compensaria mais e melhor o engenheiro Fernando Pinto", destacando ainda a "relação extraordinária" que ele tinha com os sindicatos e com a comunicação social, "que nunca ninguém conseguiu superar".