A Comissão Europeia defendeu este sábado que a rebelião do grupo paramilitar Wagner, que já ocupou instalações militares em Rostov, é um “assunto interno” da Rússia, mas está a acompanhar o desenrolar da situação.
“Isto é um assunto interno russo. Estamos a monitorizar a situação”, referiu o porta-voz da Comissão Eric Mamer, numa curta declaração enviada aos jornalistas.
Da mesma forma, os líderes de vários Estados-membros da UE, incluindo Polónia, Reino Unido e França, indicaram que estão atentos ao desenrolar dos acontecimentos na Rúsisa.
"Há relatos de tensões militares na região de Rostov e um risco de mais agitação por toda a Rússia, para além de não existirem opções de voo disponíveis para regressar ao Reino Unido", indica o Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico, citado pela Reuters.
Na Polónia, o Presidente convocou uma reunião de emergência com o primeiro-ministro e o ministro da Defesa para debater a situação, "bem como com aliados", adiantou Andrzej Duda no Twitter. "O curso dos acontecimentos na nossa fronteira leste está a ser monitorizado ao minuto."
Também o palácio do Eliseu indicou que o Presidente francês, Emmanuel Macron, está a acompanhar a situação com toda a atenção. "Continuamos focados no apoio à Ucrânia", adiantou o gabinete presidencial.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) indicou entretanto que também está a monitorizar a rebelião do grupo paramilitar Wagner na Rússia.
"Operações antiterroristas" em Moscovo
Esta manhã, o Comité Nacional Antiterrorista russo anunciou um "regime de operações antiterroristas" na capital russa, Moscovo, e respetiva região, face ao que o Presidente Vladimir Putin já classificou de "rebelião armada" pelo grupo de mercenários Wagner.
Para "prevenir eventuais atentados", este regime foi igualmente introduzido na região de Voronezh, na fronteira com a Ucrânia, indicou o comité num comunicado de imprensa, citado pelas agências noticiosas russas. Voronezh fica a meio caminho entre Moscovo e Rostov-on-Don, cidade que ao que tudo indica já foi tomada pelos mercenários russos.
Esta medida reforça os poderes dos serviços de segurança e permite-lhes restringir os movimentos de cidadãos. Prevê igualmente controlos de identidade e de veículos nas ruas e autoriza a suspensão temporária dos serviços de comunicação, se necessário.
"Todos os eventos de massa (...) foram cancelados por este motivo" em Moscovo, tinha já anunciado o presidente da câmara da capital russa, Sergei Sobyanin.
"Todos os serviços municipais estão a funcionar normalmente e as deslocações na cidade não foram perturbadas", declarou, agradecendo aos habitantes a sua "compreensão" e "calma".
"25 mil prontos para morrer"
O chefe do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, apelou a uma rebelião contra o comando militar russo, que acusou de atacar os seus combatentes no contexto da guerra na Ucrânia.
Hoje de manhã, Prigozhin anunciou que o grupo paramilitar controla as instalações militares e o aeródromo de Rostov, uma cidade-chave para o ataque da Rússia à Ucrânia.
O líder do grupo paramilitar disse ter 25 mil soldados às suas ordens e prontos para morrer, instando os russos a juntarem-se a estes numa “marcha pela justiça”.
Prigozhin acusara antes o Exército russo de realizar ataques a acampamentos dos seus mercenários, causando “um número muito grande de vítimas”, acusações negadas pelo Ministério da Defesa da Rússia.
As acusações de Prigozhin expõem as profundas tensões dentro das forças de Moscovo em relação à ofensiva na Ucrânia.
O líder do grupo Wagner já tinha afirmado que o Exército russo está a recuar em vários setores do sul e leste da Ucrânia, Kherson e Zaporijia, respetivamente, e em Bakhmut, contrariando as afirmações de Moscovo de que a contraofensiva de Kiev era um fracasso.