PAN no 25 de Abril: “Precisamos de uma nova alvorada”
25-04-2020 - 11:01
 • Eunice Lourenço

Inês Sousa Real criticou “cerimónias alheadas” das preocupações das pessoas e defendeu um “novo paradigma”

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Está muito por cumprir da Revolução de Abril e para o cumprir é preciso “uma nova alvorada” que volte a estabelecer a confiança dos cidadãos na política nos políticos, defendeu Inês Sousa Real, líder parlamentar do PAN, na cerimónia de aniversário do 25 de Abril.

“De de pouco ou nada servirão cerimónias e demais simbologias, que se mostrem alheadas das aspirações e preocupações das pessoas e muito menos das consequências da atual crise sanitária, económica, social e ambiental, ditada por uma doença silenciosa e desconhecida”, disse a deputada do PAN, um dos partidos que manifestou grandes resistências à cerimónia que decorre este sábado no Parlamento. O PAN chegou a defender que a sessão deste sábado decorre por videoconferência.

Veja aqui a cerimónia de comemoração do 25 de abril na íntegra

A deputada começou por elencar alguns dos direitos que estão por cumprir, começando pelos direitos das mulheres, que continuam a ser as principais vítimas de violência doméstica e da desigualdade salarial. Também salientou a necessidade de maior combate à pobreza, maior investimento no SNS e melhor funcionamento da justiça.

“Abril está por cumprir no funcionamento das Instituições”, disse também a deputada, acrescentando: “Na própria Casa da Democracia ainda há quem mostre intolerância a desvios ao pensamento único do sistema. Nesta Casa não nos podemos esquecer que a Democracia é de todos e para todos. Não há donos da democracia! Só respeitando a pluralidade democrática e as vozes discordantes que Abril nos permitiu é que se trava o caminho dos populismos e a demagogia crescentes.”

“Precisamos de uma nova alvorada. De um despertar para um novo paradigma”, defendeu a deputada, para quem a Covid-19 “pôs um foco sobre as forças e as fragilidades do nosso regime democrático”.


“O nosso país democrático não sobreviverá sem novas políticas. Novas políticas que reforcem e aprofundem aquilo que esta crise ainda mais evidenciou: a importância e a necessidade de um Estado social forte, que ponha as pessoas em primeiro plano e que atue na defesa e na proteção do interesse 6 dos seus cidadãos, sem qualquer tipo de distinção ou discriminação e que reforcem o caminho para a igualdade. Recorde-se que em democracia a força de um Estado depende diretamente da confiança que os seus cidadãos nele depositam. E não há confiança sem transparência. E a falta dela também alimenta populismos antidemocráticos”, continuou Inês Sousa Real.

Precisamos de uma força redobrada para livremente reerguer o país, promover o bem-estar social e económico e a qualidade de vida das pessoas e de um Estado criador de um novo modelo de desenvolvimento económico mais justo, sustentável e climaticamente neutro e que, acima de tudo, não permita que esta crise se transforme também numa crise humanitária. São muitos os desafios que nos esperam. Mas neste mar turbulento, provocado por este coronavírus e que ameaça a humanidade, não estamos todos no mesmo barco. Por isso, como bem referiu o Secretário-geral da ONU, o mantra “Não deixar ninguém para trás” importa mais do que nunca”, lembrou a líder parlamentar do PAN, que naturalmente também deixou alertas ambientais.

“Pensemos no autofágico modelo de desenvolvimento vigente, assente na produção e consumo desmedidos, que polui e invade ecossistemas intocados, destrói habitats e extingue espécies. A ciência não se cansa de alertar para a necessidade de mudança dos nossos hábitos e comportamentos, caso contrário não conseguiremos achatar a curva das emissões de carbono nem evitar o aumento da temperatura média global. E isto também nos matará, e mais crises como aquela com a qual nos debatemos hoje se seguirão”, disse em jeito de aviso.