A Polícia Judiciária juntou esta quinta-feira, em Lisboa, alguns especialistas internacionais no combate à pedofilia através da Internet.
O pretexto foi a análise de um caso português – resolvido com a colaboração de vários outros países, bem como da Interpol e da Europol –, uma oportunidade para dizer que o risco é real e nada é demais para proteger as crianças.
O caso é o de dois pedófilos portugueses, recentemente condenados a 25 anos de prisão pelo abuso de 12 crianças – muitas delas ainda bebés –, cujas imagens eram depois partilhadas num fórum criado e desenvolvido para esse efeito.
Um exemplo de duas dimensões em que este tipo de crime se movimenta: primeiro, o aliciamento através dos sites, aplicações e, até, jogos mais populares entre as crianças e os jovens; em seguida, a partilha dos abusos – que já se faz noutro patamar, na encriptada “dark web”.
Cathal Delaney, especialista da Europol em cibercriminalidade contra crianças, descreve à Renascença as situações mais comuns do primeiro nível.
“As crianças produzem material por várias razões. Porque foram orientadas, porque estão sob pressão, foram coagidas, forçadas ou acreditam que alguém as poderá forçar. Ou, então, fazem-no para o namorado ou para a namorada, pensando que assim lhes dão satisfação ou conseguem expressar os seus sentimentos. Este material pode circular, ser usado contra a criança, obrigando-a a produzir mais. É uma prática que pode ser muito perigosa”, explica.
Tanto como abusar sexualmente de crianças, estas pessoas querem partilhar esses momentos, essas imagens.
É aí, explica Pedro Vicente, coordenador da cibercriminalidade contra as pessoas da Polícia Judiciária, que entra o verdadeiro submundo da “dark web”.
“Cada vez já é mais fácil usar a ‘dark net’, existem manuais de instalação dos programas que permitem o acesso à ‘dark net’. Existem também verdadeiros manuais de encriptação, anonimização, eliminação de vestígios. Tudo para que a comunidade de abusadores sexuais possa livremente interagir. Inclusivamente, existe dentro dessa comunidade uma tentativa de normalização deste tipo de comportamentos. Existem escritos a aconselhar como se deve abordar um menor. Noutros casos, pura e simplesmente, existem alguns escritos em que as pessoas se tentam glorificar, vangloriar pelos abusos que conseguem cometer”, lembra.
Os investigadores não escondem a preocupação pela dimensão e gravidade destes casos, razão pela qual surge mais um alerta. Pais, educadores, sociedade civil em geral, operadoras de internet e telecomunicações: todos têm um papel a desempenhar na proteção das crianças.