Uma testemunha que assistiu aos confrontos que levaram à morte de um adepto junto ao estádio do FC Porto, durante os festejos do título de 2022, afirmou esta terça-feira em julgamento ter visto um dos arguidos "em cima" da vítima.
A testemunha chegou demonstrando nervosismo e com "medo" à sala de audiências do Tribunal de São João Novo, no Porto, - onde decorre mais uma sessão do julgamento de sete pessoas envolvidas no homicídio de Igor Silva - o que levou a presidente do coletivo de juízes a solicitar a saída dos arguidos para uma outra sala, onde assistiram ao testemunho por videoconferência.
A testemunha, que na ocasião sofreu ferimentos, quando tentava prestar socorro, e teve de receber assistência hospitalar, afirmou ter visto o adepto no chão, com o arguido Marco Gonçalves, conhecido como Marco "Orelhas", em cima do seu tronco, enquanto uma outra pessoa, que não conseguiu identificar, "agarrava" as pernas da vítima.
De então para cá, a mulher disse viver com receio, tendo alterado as suas rotinas, com receio do que lhe possa acontecer, uma vez que mora "num bairro social, onde vivem, também, amigos dos arguidos".
Antes deste testemunho, foi ouvida a mãe de Igor Silva, que entrou no tribunal a chorar e assim se manteve, praticamente, durante toda a sua audição.
Questionada pela juíza, disse que o filho, que vivia em sua casa com mais nove irmãos, nunca lhe contava os seus problemas e negou que a vítima tivesse facas em casa, mesmo quando confrontada com uma foto em que Igor aparecia com essas armas.
Sobre a noite do homicídio, a mulher contou que o filho "quando veio [do Estádio] da Luz, passou por casa, mas voltou a sair para ir festejar a vitória" do Futebol Clube do Porto.
Nessa madrugada, "soube que Igor estava no hospital" e só de manhã lhe disseram que tinha morrido na sequência das agressões.
Sabia que havia desentendimentos entre Igor e Marco "Orelhas", mas disse desconhecer as razões.
"A mulher e a filha do Marco "Orelhas" já tinham ido ao meu bairro pedir satisfações e perguntar por mim. Atiraram pedras de grande dimensão contra a minha casa e eu chamei as autoridades", contou, admitindo que, com a morte do filho, perdeu "a vontade de viver".
Este julgamento tem sete arguidos acusados de homicídio qualificado, três de ofensas à integridade física de uma jovem e um de detenção de arma proibida.
Segundo a acusação, consultada pela Lusa, desde o início de 2022 que cinco dos 11 arguidos, três dos quais acusados de homicídio qualificado e em prisão preventiva, mantinham um clima de conflito com a vítima motivado por agressões entre eles e familiares.
A 8 de maio de 2022, cerca das 02h00, durante os festejos do título de campeão nacional de futebol conquistado pelo FC Porto, alguns dos arguidos envolveram-se numa acesa troca de palavras com a vítima mortal, junto ao Estádio do Dragão, sustenta.
E, acrescenta a acusação, motivados por um desejo de vingança, alguns dos suspeitos perseguiram, manietaram e agrediram Igor Silva com o propósito de lhe tirar a vida, agredindo-o a socos, murros e pontapés e usando uma faca com uma lâmina de cerca de 15 a 20 centímetros.
Nessa sequência, a vítima mortal foi esfaqueada várias vezes em diferentes partes do corpo e, apesar de ainda ter sido transportada para o Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, acabou por morrer, refere.