António Costa publicou na sua conta oficial de Instagram a declaração que fez esta terça-feira ao país em que anunciou a sua demissão do cargo de primeiro-ministro.
Questionado pelos jornalistas se pretende recandidatar-se ao cargo nas próximas eleições legislativas, Costa, que ficará em funções interinamente, afastou totalmente essa possibilidade. "Não, não me vou recandidatar."
A Procuradoria-Geral da República (PGR) tinha confirmado, ao início da tarde, que o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, dois administradores da sociedade Start Campus, responsáveis pela criação de um data center em Sines, e um consultor - identificado pelos media como sendo o "braço-direito" de Costa, Lacerda Machado -- foram hoje detidos no âmbito do inquérito dirigido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) aos negócios do lítio em Montalegre e do hidrogénio verde em Sines.
Leia o discurso de António Costa:
"Ao longo destes oito anos em funções como primeiro-ministro dediquei-me de alma e coração a servir Portugal e os portugueses. Estava totalmente disposto a dedicar-me com toda a energia a cumprir o mandato até ao fim.
Fui hoje surpreendido com a informação do gabinete de imprensa da PGR de que já foi ou irá ser instaurado um processo contra mim. Estou totalmente disponível para colaborar com a justiça para apurar toda a verdade.
Quero dizer olhos nos olhos aos portugueses que não me pesa na consciência a prática de qualquer ato ilícito ou sequer qualquer ato censurável. Confio totalmente na justiça e no seu funcionamento.
A dignidade das funções de primeiro-ministro não é compatível com qualquer suspeição sobre a sua integridade, a sua boa conduta ou a suspeita da prática de qualquer ato criminal. Por isso, obviamente, apresentei a minha demissão à S.Exa. o Presidente da República.
Neste momento, agradeço em primeiro lugar aos portugueses pela confiança em mim depositada e pela oportunidade que me deram de liderar o país em momentos tão difíceis, quanto exaltantes. Agradeço a todos os titulares dos órgãos de soberania: ao Senhor Presidente da República e à Assembleia da República pela forma como sempre mantivemos uma saudável solidariedade institucional.
Às Regiões Autónomas, Autarquias Locais e Parceiros Sociais pela forma como agimos coletivamente em prol do país. Agradeço, muito reconhecidamente, aos que serviram o país nos meus três Governos. Uma palavra de simpatia e gratidão aos dirigentes partidários da oposição, aos partidos que durante vários anos comigo mantiveram um acordo de incidência parlamentar e, muito especialmente, ao Partido Socialista.
Por fim, uma palavra muito sentida de agradecimento à minha família, muito em especial à minha mulher, por todo o apoio, carinho e os muitos sacrifícios pessoais que passou ao longo destes oito anos. Esta é uma etapa da vida que se encerra e que encerro com a cabeça erguida, a consciência tranquila e a mesma determinação de servir Portugal e os portugueses, como no dia em que aqui entrei pela primeira vez como primeiro-ministro".