O chanceler alemão, Olaf Scholz, classifica a escalada da extrema-direita na Alemanha como "o génio que saiu da lâmpada", mas mostrou-se convicto ser possível convencer muitos eleitores desta fação através de políticas que enfrentem os problemas do país.
"Aqui registou-se mais tarde do que noutros países, mas agora somos obrigados a estabelecer que o génio saiu da lâmpada" comentou o chanceler, em entrevista ao semanário 'Die Zeit', num momento em que as sondagens apontam o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD, Alternative für Deutschland no original) como a segunda força política nas intenções de voto dos eleitores alemães.
Para enquadrar a escalada do extremismo de direita, fenómeno que se reflete atualmente em vários países da Europa, Scholz indicou a perda de confiança dos cidadãos num tempo de "incerteza geral" e de "grandes alterações", apontando o exemplo de Espanha que "apenas com esforço" travou uma coligação do Partido Popular (PP, direita) e da extrema-direita (Vox) e aludindo também à situação noutros países como a Suécia, Países Baixos, Bélgica, França, Portugal e Itália.
Entre as possíveis justificações ao apoio à AfD, o chanceler citou a existência de pessoas que partilham ideias "extremistas", como a expulsão de 20 milhões de cidadãos alemães do país, referindo-se às ligações recentemente descobertas do partido a um plano de extremistas de direita para expulsar todas as pessoas de origem estrangeira da Alemanha.
No entanto, enumerou ainda Scholz, outros eleitores podem juntar-se à AfD por discordarem do apoio do Governo à Ucrânia, porque são contra a luta contra as alterações climáticas ou porque são "céticos" em relação ao fenómeno da migração, disse Scholz.
Para convencer estes eleitores a reverter o seu apoio aos extremistas de direita, o chanceler alemão defendeu uma política "que coloque o país no caminho correto e enfrente os problemas", por exemplo, ao tomar medidas para reduzir a migração ilegal.
O chanceler alemão não deixou de assumir também responsabilidade pelo descontentamento de uma boa parte da população em relação ao Governo de coligação de sociais-democratas, verdes e liberais, mas manteve a defesa da medida política que visou o corte do subsídio ao gasóleo agrícola, que gerou grandes protestos em todo o país.
Alcançar a transição verde é algo que "pode ser feito, mas sem que haja conflitos", indicou o governante, lembrando que "a política não é para cobardes".
"Fábula" foi como se referiu quando questionado sobre os rumores de um possível voto de confiança no parlamento ou mesmo sobre a sua demissão devido à quebra da sua popularidade.
Na mesma entrevista, Scholz apelou aos países europeus para aumentarem o apoio militar à Ucrânia, alvo de uma ofensiva russa, ao mesmo tempo que alertou para o risco de acabarem os apoios norte-americanos.
Segundo o chanceler, a Alemanha faz "muito mais" do que outros países da Europa, uma vez que fornece atualmente mais de metade do apoio militar, situação que, segundo frisou, é incomportável a longo prazo.
"É por isso que telefono muito aos meus colegas e peço-lhes para fazerem mais", rematou.
O Presidente norte-americano, Joe Biden, fez do apoio à Ucrânia uma prioridade, mas agora enfrenta condições impostas pela ala Republicana no Congresso às novas despesas orçamentais.
Os Estados Unidos entraram em processo eleitoral, que poderá ditar novo confronto entre Biden e o seu antecessor Donald Trump, tendo o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, já admitido que o regresso deste último à Casa Branca provavelmente iria resultar numa "política diferente" em relação à guerra.