“Uma Infância Roubada e um Futuro a Reparar”. Assim se chama o relatório anual do Secretário-geral da ONU sobre Crianças em Conflitos Armados, segundo o qual, em 2020, mais de 8.500 crianças foram usadas como soldados em vários conflitos.
O documento foi divulgado na segunda-feira (já madrugada em Lisboa) e sublinha que o ano passado, marcado pela pandemia de Covid-19, foi “particularmente sombrio para crianças afetadas por conflitos”.
Mais de 2.600 (2.674) foram mortas e 19.379 sofreram violações em 21 conflitos existentes no mundo – a maioria das quais na Somália, na República Democrática do Congo, no Afeganistão, na Síria e no Iémen.
Quase 5.800 (5.748) ficaram feridas em guerras, em 2020.
A pandemia dificultou os esforços das Nações Unidas para chegar a estas crianças e aos mais necessitados. Aumentou a vulnerabilidade das crianças ao rapto, recrutamento e violência sexual, bem como os ataques a escolas e hospitais. O isolamento e as medidas levadas a cabo para combater a Covid-19 dificultaram o trabalho dos monitores e especialistas em proteção infantil.
“As guerras de adultos tiraram a infância de milhões de meninos e meninas novamente em 2020. Isso é completamente devastador para eles, mas também para todas as comunidades em que vivem, e destrói as hipóteses de uma paz sustentável”, refere Virginia Gamba, representante especial do Secretário-geral no relatório anual sobre Crianças em Conflitos Armados.
“Não podemos apagar o passado, mas podemos trabalhar coletivamente para reconstruir o futuro destas crianças, o nosso próprio futuro, colocando força de vontade, esforços e recursos para acabar e prevenir graves violações contra as crianças, e apoiando sua reintegração sustentável e construindo um futuro livre de conflitos para todos”, defende.
Polémica na lista negra
O relatório agora divulgado inclui uma lista negra de países, cujo objetivo é envergonhar as partes em conflito, na esperança de as pressionar a implementar medidas de proteção das crianças.
Há muito que esta lista é controversa, alegando alguns diplomatas que cede a pressões feitas por alguns países, como a Arábia Saudita e Israel, para ficarem de fora.
De acordo com a agência Reuters, Israel nunca fez parte da lista e uma coligação militar liderada pelos sauditas foi retirada em 2020, depois de ter sido nomeada e envergonhada por matar e ferir crianças no Iémen.
Para contornar a polémica, em 2017 a lista foi dividida em duas categorias: uma sobre as partes/países que implementam medidas para proteger as crianças e outra para aquelas que não o fizeram.
Mas as listas de 2020 revelam poucas diferenças e os únicos partidos estatais mencionados por não terem implementado medidas são os militares de Myanmar (por assassinato, mutilação e violência sexual contra crianças) e as forças do governo sírio (por recrutamento de crianças, assassinato, mutilação e violência sexual, bem como ataques a escolas e hospitais).