O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, relativizou este sábado a crítica do ex-Presidente Cavaco Silva de que Portugal vive numa "democracia amordaçada", considerando-a "exagerada", e afirmou que o antigo líder do PSD "está velho".
Em entrevista na RTP no dia em que o PCP faz 100 anos, Jerónimo falou sobre o partido, reconheceu os "avanços, limitados, mas avanços", durante os anos dos acordos à esquerda, de 2015 a 2019, e criticou a tendência do PS "de não ir mais além" em algumas medidas sociais, como no aumento do salário mínimo.
Questionado sobre as afirmações de hoje do ex-Presidente num encontro de mulheres do PSD, afirmando que Portugal vive "numa situação de democracia amordaçada", o líder dos comunistas recordou as "profundas críticas ao PS e ao Governo, particularmente em matérias económicas" e europeias, em que "há um grau submissão" da parte de Lisboa a Bruxelas.
"Daí a tomar como verdadeira essa afirmação do ex-Presidente da República Cavaco Silva é, no mínimo, manifestamente exagerado", afirmou.
Depois, disse que a intervenção de Cavaco Silva, de 81 anos, pode ser vista como "uma tática do PSD", que "faz os entendimentos com o PS em questões de fundo, estruturais" e depois precisa de "umas vozes críticas que, correndo por fora, sempre ajudam a essa tática de reforço do PSD".
"As pessoas merecem-me sempre respeito, mas, no somatório daquela entrevista, acho que está velho. Cavaco Silva está velho", concluiu Jerónimo de Sousa, de 73 anos.
Hoje, Cavaco Silva afirmou que Portugal vive "numa situação de democracia amordaçada" e considerou que causam "vergonha" os números recentes da pandemia de covid-19, que colocaram o país como "recordista" de mortes por milhão de habitantes.
"É surpreendente a frequência com que ouvimos e lemos notícias que nos deixam com uma certa ideia de que o país se encontra numa situação de democracia amordaçada", criticou o antigo chefe de Estado, numa participação, por videoconferência, na Academia de Formação Política das Mulheres Sociais-Democratas.
Além de alertar para "o empobrecimento relativo" do país em relação aos outros Estados-membros da União Europeia, Cavaco Silva centrou parte da sua intervenção no que chamou de "deterioração da qualidade da democracia a que a "geringonça" conduziu o país".
Como exemplos, Cavaco aludiu à acusação de alguns governantes - incluindo o primeiro-ministro - de que quem critica o Governo são "antipatriotas que promovem campanhas internacionais contra Portugal", mas também outras polémicas recentes, como a escolha de um nome para procurador europeu diferente do que tinha sido escolhido pelo júri internacional.
A não recondução quer do ex-presidente do Tribunal de Contas Vítor Caldeira, de quem destacou a "integridade e competência", quer da anterior procuradora-geral da República Joana Marques Vida, a quem elogiou a "imparcialidade e dinâmica" que trouxe à investigação criminal, foram outros dos exemplos apontados.