Germano Almeida. “Partido Republicano não vai aceitar Trump"
01-02-2016 - 10:31
 • José Bastos

“Caucus” do Iowa inicia ciclo eleitoral para as presidenciais de Novembro nos Estados Unidos

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Nesta segunda-feira à noite, os norte-americanos começam a escolher os candidatos - republicano e democrata - às eleições presidenciais. No "caucus" do Iowa - antes de votar os eleitores discutem, depois do trabalho, programas com apoiantes dos candidatos - inicia-se um ciclo eleitoral que terá uma etapa importante nas convenções partidárias de Julho para terminar, finalmente, a 8 de Novembro, nas urnas.

O investigador Germano Almeida defende, em entrevista à Renascença, que as primeiras votações no Iowa e New Hampshire são importantes para a reorganização do campo republicano.

Na frente democrata, o autor do livro “Histórias da Casa Branca” não duvida da vitória de Hillary Clinton, mas admite “uma terceira candidatura independente a baralhar as contas” em Novembro.

Sabemos como começa - é no Iowa - e, neste caso, saberemos como acaba? É com o "ticket" Clinton-Trump?

O Iowa marca o arranque de todo o processo de nomeação para a corrida presidencial depois de tanto tempo de pré-primárias. Do lado democrata está em causa mais uma questão simbólica do que propriamente a questão da nomeação. Bernie Sanders está, de facto, a reduzir a vantagem de Hillary Clinton. Nas sondagens nacionais, Hillary partiu com 50/60 pontos de avanço e tem, neste momento, 15/20 pontos de vantagem sobre Sanders.

Creio que continua a não estar em causa a nomeação de Hillary Clinton como candidata democrata, mas é verdade que nos chamados “estados de arranque das primárias” - agora, o Iowa, e também o New Hampshire, para a semana - há uma forte possibilidade de vitória de Sanders. No New Hampshire - creio - a vitória já não lhe escapa.

E é verdade que, em 2008, Barack Obama surpreendeu Hillary, no Iowa, depois de estar em desvantagem de 30%...

Sim. Há oito anos, Hillary nem sequer em segundo lugar ficou no Iowa, mas em terceiro, depois de John Edwards. É de admitir que Hillary possa não ganhar o Iowa. Mas será apenas uma questão matemática, porque, entre Hillary e Sanders, será um resultado aproximado e é muito provável que, daqui a uma semana, Sanders ganhe o New Hampshire com alguma vantagem. De todo o modo, é preciso colocar estes dados em perspectiva.

O Iowa e o New Hampshire são estados muito pequenos. Os delegados eleitos representam 4% ou 5% do total da convenção. Após a “Super terça-feira”, a 1 de Março, Hillary ganhará a nomeação com relativa facilidade porque tem uma grande vantagem nos estados considerados mais decisivos.

É um facto que a corrida parecia mais decidida à partida com a vantagem de 40% ou 50%. Hillary tem tido alguns problemas nos últimos dias. Como a questão dos e-mails com novos pormenores que estão a causar alguma erosão. Mas, mais significativo no campo democrata, também se está a fazer sentir alguma sinalização anti-sistema.

O discurso de Sanders, muito crítico de Wall Street (afirma que Hillary não se consegue demarcar dos grandes interesses, dos financiamentos das grandes empresas), está a ganhar espaço.

Curiosamente, Sanders está a revelar-se um candidato com algumas características de Barack Obama em 2008, apelando ao voto jovem e ao voto de protesto. Mas Sanders, com 74 anos, não é exactamente Obama e a nomeação não escapará a Hillary.

Do lado republicano, o partido chega a estas primárias sem uma fórmula para travar Donald Trump?

Iowa e New Hampshire são importantes para a reorganização do campo republicano. O fenómeno Trump continua, mas agora com duas "nuances". Trump perdeu alguma força nas sondagens e, por outro lado, já há Ted Cruz. Ou seja, Cruz é o grande "challenger" de Donald Trump. Mas, ele também, é alguém que não recolhe as preferências do “establishment “do Partido Republicano e de Washington.

Trump não tem um único apoio de um governador ou de um senador. Ted Cruz tem apenas de uma minoria do Tea Party, uma facção, ela própria, nada dominante no partido. Temos um cenário em que, provavelmente, os dois primeiros classificados das duas primeiras primárias na ordem dos 20% dos votos para cada um – falta saber quem será o primeiro – não são queridos da máquina.

Mais importante que os dois primeiros será ver quem será o terceiro. Se Marco Rubio tiver um resultado acima dos 12-15% no Iowa e New Hampshire, pode assumir-se como o candidato que, depois da “Super terça-feira”, venha a obter o acordo do “establishment”. Mas também não ponho de parte Jeb Bush. Desde que Bush “sobreviva” a estes dois primeiros testes, pode, depois, assumir-se a partir dos resultados das primárias na Florida.

Assim, teremos o lado anti-sistema Donald Trump e Ted Cruz a confrontar-se com o sector mais pró-"establishment”, possivelmente, a tudo fazer para se mobilizar em torno de um candidato: Marco Rubio ou Jeb Bush.

Há já analistas admitir um plano B nos Republicanos para travar Trump e recuperar Mitt Romney na convenção de Julho...

Não acho que faça muito sentido, mas continua a falar-se nesse cenário. Acredito mais num plano B, a decorrer da dinâmica da própria votação, seja Marco Rubio seja, eventualmente, a recuperação de Jeb Bush em baixa nas sondagens, mas importa considerar o enorme financiamento de que dispõe na campanha.

Já passou o tempo de Mitt Romney avançar. Admito mais soluções pós-convenções ou a de Michael Bloomberg como candidato independente para ir buscar votos a democratas que não gostam de Hillary ou a republicanos que não preferem Trump ou Ted Cruz.

Pela primeira vez, podemos ter um cenário em que haja um nomeado republicano, um nomeado democrata e uma candidatura independente relevante a baralhar as contas, a 8 de Novembro.

A “Super Terça-Feira”, a 1 de Março, já dissipará algumas dúvidas?

Apesar dos problemas que possa ter no arranque, Hillary acabará na "Super Terça-Feira" por garantir a nomeação e, no lado republicano, ficará definido o candidato que poderá retirar a entronização a Donald Trump. Trump lidera nas sondagens, mas o Partido Republicano acabará por não aceitar a sua nomeação.