O antigo bastonário da Ordem dos Médicos não acredita que o Ministério da Saúde e os sindicatos dos médicos cheguem a um acordo nas negociações que estão em curso. Na intervenção inicial, nas jornadas parlamentares do PSD, que decorrem na Assembleia da República, Miguel Guimarães lembrou que o Orçamento do Estado para o próximo ano prevê um reforço de dez por cento para a saúde, mais mil milhões de euros, e para as despesas com pessoal há um aumento de 337 milhões de euros. Mas, apesar deste aumento, o antigo bastonário da Ordem dos Médicos diz que não chega para contemplar as reivindicações dos sindicatos.
“Estamos a falar de 337 milhões de euros mas, com este aumento, as negociações que existem neste momento entre o Ministério da Saúde e os sindicatos dificilmente chegarão a bom porto, ou seja, ficam em risco porque este valor não corresponde àquilo que são as exigências dos sindicatos”, garante Miguel Guimarães.
No painel sobre a saúde no Orçamento do Estado, o antigo bastonário dos médicos apresentou ainda outros números, dizendo que, ao longo dos últimos anos, o orçamento para a saúde tem aumentado e, desde 2015, já aumentou 72 por cento. Apesar disso, os problemas no SNS têm-se agravado, reitera.
Para explicar esta situação, Miguel Guimarães interroga-se sobre o que pode estar na origem e aponta a incompetência, má gestão, falta de planeamento e falta de reformas no SNS.
Miguel Guimarães diz que a crise no Serviço nacional de Saúde não está relacionada apenas com a escusa dos médicos em realizarem mais horas extraordinárias, nem com a falta de médicos para assegurar as urgências hospitalares, mas há que acrescentar a falta de médicos de família, as listas de espera para consultas ou cirurgias.
“A crise no SNS, obviamente, tem a ver com o acesso aos cuidados de saúde. Temos muitos utentes que não têm médico de família e existem dificuldades na marcação de algumas consultas. Os tempos máximos de resposta garantidos, seja para consulta, seja também para cirurgia, não estão a ser cumpridos numa percentagem cada vez mais elevada. E também a questão do acesso aos cuidados continuados e cuidados paliativos”, refere Miguel Guimarães.
O antigo bastonário ouviu o primeiro-ministro falar desta crise na semana passada, mas tem dúvidas na palavra de António Costa.
“O PM veio falar sobre a crise, mas temos de ver se esta intervenção nos deixa alguma confiança. Temos de perceber o que vale a palavra do PM quanto às promessas que são feitas e acabam por não acontecer”, conclui.
Na passada sexta feira, António Costa esteve reunido com o diretor executivo do SNS e, no final da reunião, garantiu que, em janeiro, o conjunto das medidas que estão em curso já estarão a funcionar, entre elas as 39 Unidades Locais de Saúde.