Analisar. É o que diferentes equipas, em Portugal e no mundo, fazem neste momento para tentar antecipar a evolução do novo coronavírus, o comportamento dos grupos de contágio e o fim dos surtos.
Um dos maiores desafios, neste momento, é o da recolha de dados e, por cá, foi lançada a “covidografia”, uma plataforma que permite o rastreamento anónimo das redes de contágio no país.
Os portugueses participam ainda num estudo internacional, para determinar a incidência da pandemia, através de questionários.
Chama-se “Medir o Iceberg” e é um estudo internacional que já decorre em 18 países e continua a crescer. Começou em Espanha, em março, mas está também em França, Itália, Alemanha e Reino Unido, que estão entre os países com mais casos, assim como nos Estados Unidos, fora da Europa.
Carlos Baquero, um dos responsáveis pelo estudo em Portugal, defende que as principais vantagens são a simplicidade, a proximidade com os casos reais e o anonimato.
Em Portugal, no dia 6 de abril, os dados recolhidos apontavam para 84 mil casos no país, com uma margem de erro na ordem de 30 mil. Já os dados oficiais, nesse mesmo dia, indicavam 11.730 infectados.
Na quarta-feira, ontem, a Direção Geral de Saúde contabilizou mais de 13 mil casos, mas, segundo este estudo, estáva-se acima dos 60 mil, o que indica uma descida nos últimos dias.
Carlos Baquero garante que não se pretende criar alarmismo, mas “aperfeiçoar este tipo de instrumento, validar a sua utilização e aplicá-lo no futuro em outras situações”
A quantidade de casos com sintomas de covid-19 nos países em análise, e a respectiva evolução, é estimada com base nos dados que estão a ser recolhidos numa sondagem.
O inquérito decorre nas redes sociais, é aberto, qualquer pessoa pode aceder e só tem duas questões: quantas pessoas conhece na sua área geográfica e quantas destas apresentam sintomas de COVID-19 (ou foram diagnosticadas com o vírus)? Os resultados estão disponíveis online e qualquer pessoa pode consultar a evolução diária (https://coronasurveys.org/)
Os dados recolhidos são tratados e processados. Carlos Baquero, investigador do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) e professor na Universidade do Minho, admite que as estimativas não são “totalmente precisas”, mas esperam que “estejam na mesma ordem de magnitude do valor real, dando-nos uma perspetiva mais próxima do potencial de casos existentes que não foram identificados para testes.” Acrescenta ainda que “as estimativas são muito semelhantes a outros métodos indiretos utilizados”.
“Covidografia” - a evolução da pandemia na área de residência
Mais recentemente, foi lançada em Portugal uma outra iniciativa, também para recolha e análise de dados. Chama-se “Covidografia” e pretende construir uma fotografia, anónima e confidencial, dos sintomas e da evolução da Covid-19 na população portuguesa e das redes de contágio.
O objectivo é que a informação possa ser utilizada pelas autoridades de saúde, para antecipar e planear o combate ao vírus, de forma a antecipar a actual quarentena forçada e a recuperação da actividade económica.
Está disponível na internet, onde os utilizadores podem registar diariamente os sintomas, de forma anónima, e visualizar em tempo real os casos suspeitos, recuperados e em isolamento em cada área geográfica.
Esta iniciativa, associada ao tech4COVID19, arrancou há uma semana, ainda em versão beta, e já conta com 50 mil portugueses.
Rui Costa, um dos voluntários envolvidos no projecto, lembra que “nesta fase inicial, o mais importante é a adesão em massa dos portugueses para que realmente este projeto possa ajudar a reduzir o impacto deste flagelo na sociedade portuguesa.”
Noutros países já foi demonstrado que, através destes dados, é possível gerir de forma mais eficaz a saída da quarentena. Este trabalho permite “rastrear redes de contágio e proteger a privacidade dos cidadãos”, estão ainda disponíveis para trabalhar com as autoridades “de forma integrada, o alcance e as funcionalidades desta aplicação”, explica Rui Costa.