“Em Casa” foi talvez das expressões que mais repetimos nos últimos meses entre confinamentos e pandemia. Mas é também o título da nova exposição da Garagem Sul do Centro Cultural de Belém (CCB) que é inaugurada esta sexta-feira e que vai estar aberta ao público até 5 de setembro.
A exposição reflete sobre as casas em que vivemos, como é que os arquitetos de hoje projetam essas casas ou como mudaram, ao longo dos anos, as noções de habitação.
Em entrevista à Renascença, André Tavares explica a “coincidência” do título da exposição com o momento atual. “A exposição já existia com este título, antes de termos ficado fechados em casa, o que só sublinha a importância do assunto antes, durante e depois da pandemia”, lembra um dos curadores da exposição que refere que “as casas são um espaço fundamental das nossas vidas, estar e saúde”.
“Muitas vezes estamos distraídos quanto à importância das casas e da arquitetura”, lembra André Tavares a propósito desta exposição construída a partir da coleção do museu MAXXI, Museu Nacional das Artes do Século XXI, de Roma.
“A contribuição dos arquitetos para vivermos melhor”, é fundamental adverte André Tavares num tempo em que o espaço da casa que virou local de teletrabalho e escola está em evidência. A exposição que propunha essa reflexão sobre o impacto do trabalho dos arquitetos na vida quotidiana de uma morada, “faz ainda mais sentido”, diz Tavares, no atual contexto.
Esta reflexão é feita numa mostra que junta exemplos portugueses e estrangeiros de diferentes épocas. A exposição é feita “a partir do arquivo, do MAXXI e do arquivo de vários arquitetos italianos do pós-guerra, até aos anos 90. Em diálogo com esses exemplos convidamos arquitetos contemporâneos de todo o mundo a mostrar projetos em diálogo com esses do arquivo”.
Os projetos portugueses na exposição
Em Portugal foram “acrescentados alguns exemplos” nacionais, diz André Tavares que dá como referência o trabalho de reabilitação de Paulo Mendes da Rocha com a arquiteta Inês Lobo, em Lisboa.
Uma das reflexões propostas na exposição tem a ver com o alojamento local e o turismo e como “trouxeram outros valores à materialidade das casas na Baixa de Lisboa”. Há ainda também o olhar para a questão da habitação sénior. É dado como exemplo uma residência sénior da autoria da dupla Aires Mateus, em Alcácer do Sal.
Já no âmbito da reconstrução são dados exemplos das casas reconstruídas depois dos grandes incêndios de Pedrógão Grande. 30 anos depois, é também mostrado na exposição o programa SAL do arquiteto Nuno Portas, de promoção de habitação pública.
Repensar as casas em que vivemos
"Esperamos que depois desta experiência dura de passarmos um ano fechados em casa, esses problemas para os quais os arquitetos estão bastante conscientes passem a estar também na mesa dos seus clientes, de quem encomenda e decide como é que as casas são construídas e organizadas”, aponta André Tavares.
O curador da exposição “Em Casa” lembra que, embora a mostra não tenha sido pensada por causa da pandemia, pode “contribuir para esse repensar as casas” que habitamos. “Não é uma exposição que diga ‘faça-se assim ou assado’, não é uma exposição normativa” ressalva o curador, no entanto, através dos exemplos que dá, a exposição pretende dar ferramentas para pensar como “habitar no futuro”.
“Em Casa. Projetos para Habitação Contemporânea” é uma exposição organizada pelo Centro Cultural de Belém / Garagem Sul em colaboração com MAXXI, o Museo nazionale delle arti del XXI secolo, de Roma que tem a curadoria conjunta de Margherita Guccione, Pippo Ciorra, André Tavares e Sérgio Catumba. Vai estar patente de terça a domingo, das 10h00 às 18h00, até 5 de setembro.