Sabemos que a última vez que a Humanidade esteve na Lua foi há 51 anos. Sabemos que o regresso está planeado para o final de 2025. Sabemos que a Lua foi formada depois da colisão de um objeto do tamanho de Marte com a Terra. Sabemos que esse impacto foi há cerca de 4,425 mil milhões de anos.
Ou sabíamos. Um novo estudo, publicado esta segunda-feira, diz que a Lua é cerca de 40 milhões de anos mais velha do que se pensava até agora. O que significa que o satélite natural da Terra se formou nos 110 milhões de anos após a formação do sistema solar.
Como se chega a esta conclusão tanto tempo depois de ir à Lua? A chave foi, precisamente, a última missão Apollo.
Todas as missões Apollo que alunaram recolheram amostras. Ao todo, 382 kg de rochas e solo lunar foram trazidos para a Terra. Ao longo dos anos, as amostras foram sendo estudadas por cientistas para perceber mais sobre a Lua e o seu processo de formação.
Algumas das amostras foram deixadas de lado, armazenadas para serem analisadas com tecnologia mais avançada que seria, eventualmente, desenvolvida.
Foi precisamente através de uma dessas amostras, recolhida pelo astronauta e geólogo Harrison Schmitt durante a missão Apollo 17, que uma equipa de cientistas determinou a nova idade da Lua.
Através de uma nova técnica de análise - uma tomografia de sonda atómica, que utiliza um laser para evaporar os átomos dos cristais e permite datar a amostra através do decaimento radioativo -, os cientistas perceberam que a Lua tem, afinal, pelo menos 4,46 mil milhões de anos.
Cronologia do início do sistema solar fica mais bem definida
Mas que importa esta diferença, tão pequena quando se falam de milhares de milhões de anos?
“O tempo é tudo”, disse Jennika Greer, uma das autoras do estudo e cosmoquímica na Universidade de Glasgow, à National Geographic. “O nosso sistema solar já existe há muito tempo, mas muitos dos processos realmente dinâmicos aconteceram naqueles primeiros milhões de anos”.
Um desses processos dinâmicos foi a formação da Terra. A colisão com a Terra tornou tudo em rocha líquida, e lançou material suficiente para formar, depois de a órbita estabilizar e de todo o material rochoso eventualmente arrefecer, o que viemos a conhecer como Lua.
Ao The Guardian, o investigador Romain Tartèse, da Universidade de Manchester, elogiou o novo estudo, mas salvaguardou que as amostras estudadas podem não se aplicar a toda a Lua.
“Isto sublinha a importante de recolher mais amostras, de diferentes regiões da Lua, em missões futuras”, declarou.
É precisamente isso que está previsto para a missão Artemis III, que deve explorar o Polo Sul lunar no final de 2025. Phillip Heck, outro dos autores do estudo, defendeu à Popular Science que pode haver minerais ainda mais velhos na Lua.
“Estou convencido que há coisas mais velhas na Lua – simplesmente não a encontramos ainda. Até acho que temos cristais mais velhos nas amostras da Apollo”, atirou Heck, para quem o futuro trará uma melhor definição da cronologia da formação do sistema solar.
“Talvez daqui a 50 ou 100 anos, ou ainda mais tarde, novas gerações de cientistas vão ter as ferramentas com que apenas podemos sonhar hoje para responder a questões científicas em que nem conseguimos pensar hoje”, conclui o investigador.