A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, defendeu esta sexta-feira que o Conselho de Governadores "tem de estar mais confinante" no abrandamento da inflação para poder baixar taxas de juro, apesar dos "números encorajadores" sobre os salários.
Lagarde falava à imprensa no final de uma reunião informal dos ministros das Finanças da zona euro (Eurogrupo), que hoje contou também com os governantes da União Europeia (UE) e com governadores dos bancos centrais, no dia em que o responsável português pelas Finanças, Fernando Medina, defendeu que, "quanto mais tempo" o BCE prolongar as elevadas taxas de juro, "maiores são os riscos" de "a situação económica se deteriorar", dado o contexto de redução da inflação.
"O BCE e todo o sistema do euro dependem dos dados e vamos analisar vários dados para além dos salários, como as unidades de lucro, as expectativas, os resultados dos inquéritos telefónicos às empresas, o serviço de empréstimos bancários e muitos outros dados que são importantes para nós", vincou a presidente do banco central da moeda única.
Questionada sobre a atuação da reserva federal norte-americana, que já alertou para os riscos de baixar as taxas de juro demasiado cedo, Christine Lagarde sublinhou "o facto de o BCE ser independente".
"E estamos determinados a continuar a depender dos dados e a ser independentes na avaliação que fazemos e na decisão política que tomamos", adiantou.
Na reunião de janeiro, os membros do Conselho do BCE aprovaram por unanimidade a decisão de deixar as taxas de juro inalteradas e consideraram por amplo consenso que era prematuro discutir possíveis cortes.
Na conferência de imprensa, o presidente do Eurogrupo, Paschal Donohoe, foi questionado sobre a ideia proposta pelo ministro francês da Economia e Finanças, Bruno Le Maire, relativa a uma união voluntária dos mercados de capitais para evitar que a Europa fique para trás face a potências como China ou Estados Unidos, dada a incapacidade de a UE a 27 avançar.
Sobre esta questão, relativa aos passos para um mercado único de capitais em todos os Estados-membros, a fim de desbloquear financiamento, Paschal Donohoe disse estar "de acordo com Bruno [Le Maire] no que respeita à urgência política de fazer progressos neste domínio".
"Creio que esta é uma parte muito grande do puzzle que precisamos de pôr em prática relativamente à forma como a Europa pode encontrar o investimento de que necessita para manter o seu lugar no mundo. Nas próximas semanas, discutirei separadamente questões específicas e verei se conseguimos chegar a um acordo sobre o caminho a seguir em relação a esses temas", adiantou o presidente do Eurogrupo.
Esta reunião informal do Eurogrupo é agora seguida por um Ecofin dedicado à competitividade da UE face a potências como Estados Unidos ou China, numa altura em que o ex-presidente do BCE Mario Draghi, que estará na reunião, prepara um relatório.