O governador do Banco de Portugal descarta um impacto da instabilidade política na área económica e indica que a taxa de inflação poderá baixar para perto dos 3% este ano "se não houver choques exogéneos nos preços".
Esta sexta-feira, na conferência que assinala os 50 anos do semanário Expresso, Mário Centeno disse que é importante que o país mantenha o foco nos seus desafios, adiantando que não acredita em repercussões negativas do que se está a passar na arena política.
"Não acredito. Acho que obviamente o país tem de se centrar nos seus desafios essenciais. Temos uma legislatura que começou há muito pouco tempo e temos de, coletivamente, ultrapassar essas dificuldades. Nada do que se está a passar influencia nenhum dos grandes indicadores [económicos]."
O governador do Banco de Portugal diz que as taxas de juro devem estar próximas do seu pico, se não houver novos grandes choques ligados à energia.
"Elas estarão a atingir, em termos das taxas diretoras do Banco Central Europeu (BCE), valores muito próximos dos seus valores mais altos se, e este se é muito significativo, nós não formos sujeitos a mais nenhum choque exógeno nos preços internacionais, nos preços da energia."
Na "Grande conferência Expresso 50 anos", Centeno adiantou: “Se nós não formos sujeitos a mais nenhum choque exógeno nos preços internacionais, nos preços da energia, se isso acontecer, nós conseguiremos – e as projeções vão nesse sentido – trazer a taxa de inflação de valores acima de 10% no final de 2022 para valores muito próximos de 3% em 2023.”
O governador do BdP saúda a queda da inflação na Zona Euro noticiada esta manhã, indicando que não há sinais de inversão de tendências no sentido positivo. Contudo, ressalta, é preciso manter a tendência dos valores hoje conhecidos.
"Nós estamos no valor mais baixo dos últimos quatro meses na taxa de inflação. Se formos ao Trading Economics hoje, ficamos até bastante lisonjeados com o ponto em que estamos na nossa economia."
"Os indicadores de confiança na indústria, nos consumidores, nas vendas a retalho, todos superaram as expectativas e todos estão em valores máximos dos últimos seis, sete, oito meses", acrescentou. "Esta aparente inversão ainda sabe a pouco, mas temos de ter muito claro que o mais importante para as nossas economias é garantir que a taxa de inflação consegue manter esta trajetória."
O ex-ministro das Finanças diz ainda ser fundamental elevar os níveis de confiança das famílias e dos agentes económicos e reverter uma certa depressão nesse indicador.
"Devemos aprender com isso e devemos alimentar o indicador que neste momento mais me preocupa que é os níveis de confiança. Estes dados que saíram hoje revertem bastante a trajetória dos níveis de confiança dos indicadores do sentimento económico na Europa. Mas eles estão muito abaixo do que estavam em fevereiro de 2022, ainda. Este é um período muito prolongado de pressão na nossa confiança que tem de ser invertido."