O bispo de Pemba, D. António Juliasse, volta a pedir à comunidade internacional para que não esqueça o Norte de Moçambique, sublinhando que o terrorismo está a alastrar na região.
"Que a comunidade internacional não se esqueça do Norte de Moçambique", apela o prelado, em entrevista à Renascença, concedida durante uma curta passagem por Portugal.
“A situação é muito delicada em Cabo Delgado, mas também é preciso dar muita atenção à província de Nampula”, alerta, insistindo em que os ataques terroristas deixaram de ser um problema exclusivo de Cabo Delgado.
"O problema é de toda a região Norte”, insiste.
D. António Juliasse alude a “um sentimento generalizado de insegurança” e denuncia o aumento de dificuldades dos organismos internacionais em disporem de meios para ajudar a população necessitada.
“Existe um sentimento de insegurança no seio do povo e as pessoas dizem que estão a ser deixadas à sua sorte e que ninguém as acode”, denuncia, admitindo que o número de deslocados em Moçambique já esteja muito próximo de um milhão.
O bispo revela que, nas últimas semanas, se confirmou a existência de mais cem mil novos deslocados. "Estive a falar com o bispo de Nacala e ele disse-me que deviam estar mais de 100 mil novos deslocados em marcha”, relata.
"As pessoas têm a sensação de que estão a ser deixadas à sua sorte", reforça.
Neste quadro, D. António destaca também as dificuldades do Programa Alimentar Mundial (WFP), dizendo que “várias organizações já não podem atuar da maneira como atuavam porque não tem condições para atuar”, porque “não há ajudas que cheguem".
"O WFP, que faz um belíssimo trabalho, revelou-nos que as ajudas que chegaram para eles estão muito diminuídas e não podem fazer um programa de ajuda alimentar mais abrangente."
D. António Juliasse lamenta que haja "um esquecimento" generalizado do "problema humanitário em Cabo Delgado".
“Em muitos círculos, não há preocupação com a região", subsistindo apenas "sinais da presença da União Europeia".
Na perspectiva do bispo de Pemba, a guerra da Ucrânia retirou o foco das "dificuldades humanitárias" da região, onde se vai isntalando "um sentimento de impotência generalizado entre os atores que se dedicam a apoiar a população".
“Nós com os nossos olhos vemos o sofrimento", reforça.
Durante o período da sua presença em Portugal, a diocese de Pemba e a arquidiocese de Braga decidiram consolidar o acordo de cooperação missionária.
D. António Juliasse diz que Pemba vai "tentar tirar mais proveito do acordo que existe", porque "quem tem muito a beneficiar com o entendimento é a diocese de Pemba".
O bispo lembra que neste momento "há quatro seminaristas de Pemba a fazer a sua formação para o sacerdócio em Braga, mas existem outras oportunidades a explorar".