A ligação do
PSD ao Chega voltou a ser trazida para a atualidade por Passos Coelho. Não
houve propriamente novidade, apenas uma posição mais afirmativa.
“Passos Coelho pressiona Montenegro a entender-se com o Chega”, titulava a Renascença, na passada segunda-feira. Tinha sido no lançamento de um livro, onde André Ventura também esteve presente, tendo naturalmente elogiado a posição de Passos. E é um facto que muitos militantes do Chega vieram do PSD.
Mas, dir-se-á, PSD e Chega não são ambos partidos de direita? São, embora com uma diferença importante - o PSD afirma-se como um partido democrático, enquanto o Chega manifesta crescente afinidade com o regime derrubado no 25 de abril de 1974. Do ponto de vista ideológico, o PSD está mais próximo do PS do que do Chega.
Repare-se que o Chega faz parte do movimento internacional constituído por partidos ditos da direita radical, que olham com simpatia para autocratas como Putin. Partidos como o de Viktor Orbán, na Hungria, ou de Marine Le Pen, em França.
Passos Coelho considera o Chega um partido democrático. A palavra democracia não é unívoca. Recorde-se que o regime de Salazar e Marcelo Caetano era uma “democracia orgânica e corporativa”. E a União Soviética também se intitulava uma “democracia socialista”.
A democracia que eu prezo é a democracia representativa, pluralista, o contrário de uma ditadura. Essa democracia é o regime vigente na maior parte dos países europeus e nos EUA - enquanto Trump, outro peculiar “democrata”, não der cabo da democracia americana.
Com esta intervenção de Passos Coelho a vida de Luís Montenegro - e a vida política do país - que já estava difícil fica mais complicada. Lá terá Montenegro que repetir que “não é não”. E há quem fale em ambições presidenciais de Passos. Daí a conveniência em tornar claro que tipo de democracia Passos e o Chega defendem.