O encerramento de fronteiras para impedir a entrada de ajuda humanitária na Venezuela é um ato “desumano” e Nicolás Maduro deve ouvir o “clamor do povo”, apela em entrevista à Renascença D. Baltazar Porras, arcebispo de Mérida e administrador apostólico de Caracas.
Um grupo de indígenas tentou esta sexta-feira abrir um corredor humanitário para garantir a entrada de ajuda, mas as forças de segurança intervieram de imediato. Dos confrontos resultaram dois mortos, confirma o cardeal.
Como está a situação na fronteira com o Brasil?
Pelas informações que recebemos da fronteira com o Brasil, em Santa Helena, é que os confrontos entre indígenas e efetivos da Guarda Nacional resultaram dois mortos e mais de 20 feridos. É uma situação muito tensa e difícil de avaliar com exatidão.
Como é que o senhor cardeal vê este encerramento de fronteiras decidido por Nicolás Maduro, que impede a entrada de ajuda humanitária?
A necessidade de ajuda humanitária põe em evidência a crise que vive o país. Negar a sua entrada é um gesto desumano. Há muitas pessoas em situação vulnerável, principalmente crianças e idosos, todos quantos necessitam de tratamento. Não serem assistidos diminui a qualidade de vida e pode conduzir à morte. É por isso necessário uma mudança profunda na sociedade venezuelana para que possamos viver em paz.
Acredita que Juan Guaidó pode ser a solução para garantir eleições?
Bom, neste momento, como assinalaram a Conferência Episcopal e outras instâncias, vivemos numa situação de ilegitimidade por parte do regime atual. O único poder público que tem legitimidade porque foi eleito em condições normais foi a Assembleia Nacional.
Que conselho daria a Nicolás Maduro neste momento?
Que escute o clamor do povo. Todas estas manifestações e marchas são espontâneas porque a necessidade é muito grande: a fome, a falta de medicamentos e a falta de segurança têm que ter uma resposta. Deve ouvir o clamor do povo para que se garanta aquilo que nos pode favorecer a todos e que seja o povo a decidir o seu presente e o seu futuro.
Acredita que a mudança está para breve, que haverá eleições em breve?
O caminho desejado pela população venezuelana é que se criem condições para que se realizem eleições livres. Há que ter paciência e procurar todas as vias pacíficas que permitam cumprir esse objetivo.