Depois de dois anos de pandemia, a reabertura dos estabelecimentos e a maior movimentação nas zonas de diversão noturna do Porto tem deixado os moradores e comerciantes em alerta. As queixas de violência e distúrbios têm aumentado e pedem um maior policiamento, mas a falta de agentes da PSP tem dificultado a resposta.
Em declarações à Renascença, Nuno Cruz fala de um "disparate" e diz que a PSP não tem "elementos suficientes para nada". "Chegámos ao cúmulo de a esquadra mais importante da cidade, a esquadra do Infante, no coração do Centro Histórico do Porto, fechar por falta de efetivos", lamenta.
O presidente da União de Freguesias do Centro Histórico do Porto destaca a necessidade de mobilizar mais agentes da polícia, especialmente numa altura em que Portugal recebe "milhões e milhões de turistas". "Nós temos de transmitir uma enorme segurança. Um dia destes, passa-se a mensagem de que ir a Lisboa ou ao Porto é perigoso."
Depois das notícias de encerramento da esquadra do Infante, o Ministro da Administração Interna chegou a anunciar, no final do mês passado, um reforço de 900 novos polícias em todo o país. No entanto, a promessa de José Luís Carneiro ainda está por cumprir, pelo menos no Centro Histórico do Porto.
Face à inércia do Ministério da Administração Interna, Nuno Cruz aponta o dedo às intenções do Governo do PS: "O Governo não domina as duas maiores cidades do país. Como é que há de recuperar essas duas cidades? É tirar qualidade de vida de quem lá vive".
Desta forma, o autarca acredita que a Câmara do Porto será mais rapidamente responsabilizada e que "as pessoas mudarão o sentido do seu voto". "É confuso demais entender que alguém promova a instabilidade numa cidade para recuperar o voto", acusa o autarca.
Entre o ruído "até às quinhentas" e as "zaragatas" nas noites do Porto
Quanto às várias queixas recebidas, Nuno Cruz salienta furtos e roubos ou ainda as "confusões e porrada" na zona da Movida do Porto. "Eu tenho um filho de 18 anos. Se ele me disser assim 'Ó pai, posso ir beber um copo?', eu já fico com o coração nas mãos", confessa Nuno Cruz, também residente no centro histórico.
Por outro lado, o ruído das "colunas de música até às quinhentas" também tem sido alvo de forte indignação de quem vive na baixa portuense. "As pessoas querem descansar. Eu tenho homens casados, desesperados, a chorar, que no outro dia querem trabalhar e não conseguem descansar", revela o presidente da união de freguesias.
Rosa Andrade, dona de um bazar na rua dos Mártires da Liberdade, salienta o encerramento de várias esquadras na zona, ao ponto de a presença policial se ter tornado uma miragem: "Aqui na rua não há policiamento. Então à noite, isto aqui é um caos, é muita gente. A partir de quinta-feira até domingo, é S. João autêntico".
A comerciante de 58 anos relata ainda "zaragatas" motivadas pelo excesso de álcool, mas nunca ouviu falar em assaltos: "Graças a Deus, estou aqui com a loja há alguns anos e ainda não fui assaltada. E aqui na rua nunca ouvi falar desse tipo de coisas", admite.
Da mesma sorte já não se pode gabar Nuno Canavez. O alfarrabista de 87 anos foi assaltado recentemente, mas já não é uma novidade: "É recorrente eu estar aqui e estar um indivíduo a tirar-me livros. Se eu não estiver muito atento, sou roubado com a maior das facilidades".
O dono da livraria reconhece que "nunca" viu "tão pouco policiamento em 74 anos" e lamenta que as noites no Porto sejam, cada vez mais, "mal frequentadas" e um convite à "marginalidade". "Não sei como é que se pode fazer policiamento sem os agentes de autoridade virem à rua", sublinha.
Já onde a diversão noturna passa, Miguel Camões, da Associação de Bares e Discotecas da zona da Movida do Porto, admite que se têm tomado precauções, embora limitadas: "Houve uma ou outra casa que esteve a fazer o reforço de vigilantes à porta dos seus estabelecimentos, mas é sempre para situações da porta para dentro. Na via pública, não temos autoridade para intervir, portanto, esta situação só se resolve com policiamento".
O dirigente da associação dá ainda o exemplo dos últimos dois anos, em que a PSP patrulhava a área por gratificado, pago pelos proprietários dos bares e discotecas locais. "Não é uma questão de fé nossa, é uma questão de termos dois anos que comprovam que o policiamento presencial funciona para aumentar os níveis de segurança destas ruas", frisa.
A resposta começa a chegar, mas ainda não será suficiente
Esta segunda-feira, o Comando Metropolitano da PSP do Porto garantiu estar “atento” à situação e declara ter reforçado o policiamento na zona da Movida do Porto aos fins de semana. A área está a ser servida por uma esquadra móvel, a funcionar entre a uma e as cinco da manhã, e prevê ainda a instalação de câmaras de videovigilância.
No entanto, Nuno Cruz reforça não ser suficiente para o Centro Histórico do Porto, "onde tudo acontece". "Devíamos ter dois elementos a fazer ronda perto das Galerias, dois elementos a fazer nos Leões... A polícia tem que ser vista nas ruas do Porto", realça o autarca, afirmando que só assim se poderá dissuadir a criminalidade e violência.
Tanto a junta de freguesia, como a associação de bares e discotecas têm tentado contactar o Ministério da Administração Interna. Em ambos os casos, não houve qualquer tipo de resposta.
Ainda no final do mês de julho, foi aprovado, em Conselho de Ministros, um pacote de investimento de 607 milhões de euros, destinado à melhoria de infraestruturas e aquisição de equipamentos da polícia.